05 abril 2011

Senhor Presidente: é tempo de agir

"O conselheiro de Estado Bagão Félix acusa o primeiro-ministro de mentir nas declarações que fez à RTP sobre a discussão no Conselho de Estado da passada semana", escreve o Público, a propósito da entrevista televisiva de ontem ao canal do Estado na qual o Primeiro-ministro negou que a possibilidade de um empréstimo intercalar tivesse sido discutida no recente encontro entre Conselheiros de Estado. Citado por aquele jornal, Bagão Félix rematou "Não vale tudo. Há limites de ética e de decência na política. Como cidadão fiquei boquiaberto. Perturbado".

(...)

"Ontem houve duas entrevistas na TV. Numa, a verdade; na outra, a fantasia. Santos Ferreira, na TVI, deu em dez minutos um banho de realidade a Portugal. José Sócrates, na RTP, deu uma hora de banhada. O primeiro-ministro descolou da realidade, zarpou para dentro de um cubo caleidoscópico onde só ecoa a sua voz. Vê-se e dá pena. Pena de nós (...) Adiar o pedido de empréstimo é mergulhar o País na falta de dinheiro, salários em atraso, no medo das poupanças, na bancarrota, no incumprimento. Isso só acontecerá se formos governados por eunucos da política, habitantes da negação patológica. Até há dias, Sócrates era um resistente; agora é um desistente. Se não vê a realidade, será preciso interná-lo e fazer o que fizeram a Salazar, fingir que governa.", Pedro Santos Guerreiro, na edição de hoje do Jornal de Negócios (página 3).

Enfim, eu não sei se o Primeiro-ministro já está em campanha eleitoral - bem suja, por sinal - ou se, simplesmente, quer abandonar o navio sem mais demoras. Aquilo que sei é que, neste clima tão deteriorado e tão crispado, o Presidente da República deve actuar já, nomeando de imediato um Governo de iniciativa presidencial, de cariz tecnocrata e politicamente independente - como, aliás, devia ter feito logo que o executivo de Sócrates caiu - com o apoio parlamentar do PS (se o seu Secretário-geral fizer o favor de o permitir...), do PSD e do CDS, que governe o País até Agosto. Portugal não tem hoje alternativa ao empréstimo intercalar. E, na realidade, se este for a razão final para justificar a urgência da reforma do Estado, do seu sector empresarial e da sua máquina político-partidária, até pode ser que, um dia, em retrospectiva, o empréstimo venha a representar aquela que foi a (improvável) alavanca do relançamento da economia nacional e do País. Na pior das hipóteses, comprar-nos-á tempo, que é coisa que começa a faltar...De uma coisa estou certo: este não é o momento para qualquer tipo de complacência, a começar pelo Chefe de Estado, sobretudo se essa complacência for a pretexto de qualquer salamaleque constitucional...

Sem comentários: