A campanha eleitoral que se desenha parece ir centrar-se na discussão entre liberalismo e socialismo, e por isso vai ser perfeitamente estéril e absolutamente irrelevante. Não vou discutir aqui se, depois do 25 de Abril até hoje, os elementos importados na sociedade portuguesa, e que a conduziram agora à ruína, foram mais liberais ou mais socialistas - eu penso que foram mais socialistas. Mas nem por isso eu recomendaria o liberalismo aos portugueses, apesar de todo o meu apreço pelas ideias liberais.
Aquilo que me proponho fazer é olhar para a história moderna de Portugal, primeiro para um período que foi distintamente de influência liberal (1820-1890), e depois para outro em que a influência foi predominantemente socialista (1890-1926), e perguntar qual foi o melhor. A resposta é "Venha o diabo e escolha".
Em 1820, a única ideologia organizada era a ideologia liberal. Já tinham morrido nessa altura os autores, quase todos anglo-saxónicos, que tinham posto a ideologia liberal de pé, como Locke, Hume, Adam Smith, etc. As ideias socialistas não tinham ainda nascido. Foi portanto a ideologia liberal que a revolução de 1820 procurou instaurar em Portugal, e daí a designação de Revolução Liberal. O intelectual mais distinto na defesa das ideias liberais foi Alexandre Herculano. O resultado foi um dos períodos mais negros da nossa história - guerra civil, golpes de Estado sucessivos, suspensão repetida das garantias constitucionais (isto é, períodos de ditadura), perseguições políticas e religiosas, falência bancárias e, no fim, a ruína financeira de 1890.
As ideias socialistas nasceram na década de 1840, sob influência predominantemente alemã, mas só chegaram a Portugal na década de 1870 pela mão da chamada geração de 70, como Oliveira Martins, Teófilo Braga e Antero de Quental (as ideias chegam sempre a Portugal com um gap de cerca de 30 anos). Porém, elas só tiveram influência efectiva na política a partir da década de 1890, e quase todos os intelectuais da geração de 70 viriam a ocupar cargos políticos nesse período (v.g., Oliveira Martins foi ministro das Finanças e Teófilo Braga seria, anos depois, o primeiro Presidente da República).O saldo deste período não foi melhor que o anterior: ditaduras (v.g., João Franco), um regicídio, golpes de Estado, pelo menos uma revolução - a republicana, de 1910 - perseguições políticas e religiosas, assassinatos políticos (v.g., Sidónio Pais), mais de quarenta governos entre 1910 e 1926, inflação galopante, e, no fim, a inevitável ruína financeira, que somente Salazar viria a resolver.
E agora, queremos mais socialismo ou mais liberalismo?
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