Eu gostaria de retomar este post (que tem sido responsável por um considerável aumento das audiências do PC nos últimos dias, embora nunca por boas razões), para começar a especificar em que é que se traduz a ideia de que é necessário um aumento da virilidade ou dos valores masculinos na sociedade portuguesa actual.
Aqui tratarei do primeiro: a assumpção do sustento financeiro da casa, senão exclusivamente, ao menos principalmente pelo homem.
Nos últimos 30 anos, as mulheres portuguesas acorreram maciçamente ao mercado de trabalho, a tal ponto que Portugal possui hoje uma taxa de participação das mulheres na força de trabalho (49.5%) que é a 12ª maior de todo o mundo, e praticamente igual à dos homens (50.5%). São conhecidas algumas das consequências igualmente radicais desta alteração: a redução das taxas de nupcialidade, o aumento dos divórcios, a diminuição das taxas de natalidade, etc.. Não é este, porém, o ponto.
O ponto é que uma actividade que era essencialmente masculina - ter um emprego, trabalhar fora de casa, assegurar o sustento financeiro da família - foi, no espaço de uma geração, invadida por mulheres e, como é normal na nossa cultura, as coisas foram levadas ao exagero, ao ponto de Portugal se ter tornado um país onde o grau de feminização da força de trabalho é dos mais elevados do mundo.
Além dos trabalhos domésticos e dos cuidados dos filhos onde, nalguns casos (v.g., amamentação) ela é insubstituível, a mulher passou a ter também, numa posição igual à do homem, a responsabilidade pelo sustento da casa. O stress de responder às solicitações de criar uma família e às exigência do emprego deve ser tremendo para as mulheres que se encontram nesta situação. Imagina-se que uma mulher nestas condições não tem tempo para mais nada. E estamos chegados ao âmago da questão - o tempo.
Muito mais do que um homem, uma mulher precisa de ter tempo livre. Trata-se de um bem absolutamente essencial para uma mulher, e consideravelmente menos essencial para um homem. E precisa de ter tempo livre para quê, para cuidar de si? Sim, mas não apenas isso. Precisa de ter tempo livre para uma actividade muito mais importante - sonhar. Uma mulher precisa de ter tempo livre para sonhar os sonhos que os homens irão realizar para ela.
Aquilo que nós somos e até onde chegamos na vida foi determinado em primeiro lugar pelos sonhos das nossas mães. A nossa própria existência é o fruto dos sonhos delas. Mais geralmente, as grandes obras, frequentemente realizadas pelos homens, foram quase sempre e em primeiro lugar, sonhos de mulher.
Uma sociedade onde as mulheres deixaram de ter tempo para sonhar é uma sociedade paralisada, estéril, que não cria, que não cresce, que permanece eternamente na mesma - e é assim que está a sociedade portuguesa actual. Por isso, se um homem me confidenciasse que acaba de dizer à sua mulher: "Olha, eu vou passar a trabalhar mais, para que tu possas trabalhar menos e teres mais tempo livre para ti", eu só poderia reagir dizendo-lhe: "Isso é de homem!"
Sem comentários:
Enviar um comentário