12 março 2011

opinião

Um povo de cultura católica não tem sentido de responsabilidade (cf. post anterior) nem tem opinião. Em parte, porque a opinião dele não conta para nada. A opinião dele é a opinião do chefe, porque essa é a única opinião que conta.
Para o português típico só contam as opiniões vindas de pessoas em posições de autoridade. Esta é uma postura adequada quando as pessoas em posições de autoridade são pessoas de elite, como acontece no modelo católico puro representado pela Igreja Católica. Esta postura, porém, torna-se um desastre quando as pessoas em posições de autoridade são elas próprias genuínamente povo, como acontece quando o modelo católico é substituído pelo modelo protestante da democracia.
No modelo protestante da democracia as opiniões são formadas pelo povo e fluem do povo para as autoridades eleitas, que são supostas executarem as opiniões do povo - a chamada opinião pública. Este processo exige que cada cidadão dê, em primeiro lugar, atenção à opinião do seu concidadão, e não à opinião da autoridade, e isso é exactamente contrário à tendência do povo de cultura católica, que só dá importância à opinião da autoridade, e nunca à do seu concidadão.
O discurso do Presidente da República desta semana foi ilustrativo a este respeito. O Presidente proferiu uma série de banalidades sobre a situação económica e social do país, que milhares de analistas individualmente já proferiram. Fez exortações ao povo português que contrariam absolutamente a sua própria prática política enquanto governante (como a de apelar a menos Estado quando ele foi o pai do moderno Estado Providência em Portugal). O discurso fez a manchete de todos os jornais de uma maneira que os muitos analistas que já disseram um milhão de vezes aquilo que ele disse nunca fariam.
Portugal não tem cultura para a democracia. É preciso admiti-lo de vez.

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