A visão da Igreja como uma figura de mulher (Maria) permite olhar a Reforma Religiosa do século XVI, e o movimento da filosofia moderna a que ela deu origem, a uma luz inteiramente nova. Ela permite também olhar sob uma nova perspectiva as instituições sociais e políticas que resultaram do movimento do protestantismo e da modernidade e discernir o impacto que elas tiveram nos países que, como Portugal, só muito tardiamente se abriram a essas novas concepções (em Portugal, desde 1974, embora desde 1820 várias tentativas tenham sido feitas, todas elas falhadas).
A esta nova luz, a Reforma Religiosa e a Modernidade são, em primeiro lugar, uma revolta contra a influência da Mulher na sociedade. Aquilo que, em primeiro lugar distingue os países que tenho chamado de predominantemente protestantes (Norte da Europa e América do Norte) é a prevalência neles de valores que são essencialmente masculinos, por oposição aos países que tenho designado por predominantemente católicos (Sul da Europa e América Latina), onde predominam os valores femininos.
A Reforma Religiosa da século XVI, ao rejeitar a veneração da Virgem Maria, apeou a Mulher do pedestal em que se encontrava, substituindo-a pelo predomínio do Homem na figura de Cristo, e segundo o preceito protestante de "Solus Christus". Inicialmente imunes a esta transformação ficaram os países do Sul da Europa, como Portugal.
Lutero, que começou como padre católico, acabou casado, mas não tinha nenhuma consideração pela Mulher, incluindo a sua própria mulher. Para ele, a única utilidade das mulheres era a de servir os homens, exactamente o oposto do paradigma católico onde a utulidade dos homens é sobretudo a de servir as mulheres. A Reforma protestante tornou a mulher escrava do homem e o chamado movimento de emancipação das mulheres, que teve origem nos países protestantes - e que nos últimos 30 anos Portugal tem procurado imitar - é, na realidade um eufemismo para uma realidade muito diferente - a de que as mulheres não tendo mais quem as sustentasse tinham agora de se sustentar a si próprias, senão mesmo de sustentar os homens.
Porém, a rejeição de Maria pelo protestantismo levou a uma consequência que provavelmente é de todas a mais importante, que foi a de abdicar da Verdade - a qual só Maria possui - em favor da construcção de uma nova sociedade que assenta numa mera suposição - a de que Cristo é filho de Deus - uma suposição ou hipótese que nunca poderá ser confirmada ou infirmada senão pelo recurso à figura de Maria. As ideias e as instituições que daí resultaram - como a democracia, a separação de poderes, a liberdade como valor supremo, a supremacia do homem sobre a mulher, o republicanismo, etc, tudo instituições protestantes - não são Verdade nem deixam de ser. São suposições, teses, hipóteses, numa palavra, modas, eternamente à espera de serem confirmadas.
Há cerca de ano e meio o meu filho B. herdou uma sobrinha por casamento. É uma pequenita de 4 ou 5 anos, sobrinha da mulher dele, e que rapidamente se tomou de amores pelo novo tio.
Eu próprio já tinha estado com a menina umas duas ou três vezes, mas nunca demoradamente. Até que, na última ocasião, num encontro de famílias, eu notei que ela girava persistentemente em torno de mim, que conversava com outras pessoas. Havia ali de certeza uma curiosidade por satisfazer. Até que se encheu de coragem e, tocando-me no braço, perguntou-me.
-Tu é que és o pai do B.?
-Olha, quem sabe isso ao certo é aquela senhora. Vai-lhe lá perguntar, respondi eu enquanto apontava para a minha mulher que conversava num grupo de pessoas.
E ela assim fez, enquanto eu fiquei a observar.
Chegou junto da minha mulher, e pegando-lhe na mão perguntou-lhe, apontando para mim:
-Aquele é que é o pai do B.?
A minha mulher sorriu, acenou afirmativamente com a cabeça, e continuou a conversar. A pequenita veio a correr para mim, sorriso aberto, como que a dar-me a boa nova: "Sim, tu é que és o pai do B."
Foi nesta altura que eu me apercebi da fragilidade em que assenta o protestantismo e todo o edifício filosófico da modernidade. Se eles põem de lado a figura de Maria, como é que eles sabem quem é o pai do C.?
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