20 março 2011

o convidado

São incontáveis os comportamentos femininos que na sociedade portuguesa se exprimem com cara de homem, parecendo que são comportamentos de homem quando, na realidade, são comportamentos de mulher, e revelando a natureza profundamente feminina da nossa cultura.
Eu não posso aqui senão limitar-me a indicar alguns exemplos.
"I applied for a job at Sonae and I got it", seria assim que um americano ou inglês cheio de auto-estima comunicaria aos seus amigos o seu novo emprego.
Nunca um português consideraria esta fórmula como satisfatória do seu amor-próprio, porque o facto de concorrer (applying) o desvalorizaria imediatamente aos olhos dos seus amigos. Um português importante não concorre a um emprego. Ele é convidado para um emprego, e de preferência por uma figura de autoridade protagonizada por um homem:
"Fui convidado pelo Eng. Belmiro de Azevedo para director de compras da Sonae", seria assim que ele diria aos amigos, mesmo se o Eng. Belmiro de Azevedo só apareceu no final do processo de recrutamento para o conhecer e já depois dele ter assinado o contrato.
Já se vê o que vai de feminilidade nesta fórmula tão ao gosto dos portugueses - a do convidado. Uma mulher é que fica à espera de ser convidada, e de ser convidada por um homem, de preferência um homem de poder.
Um homem, pelo contrário, toma a iniciativa - não fica à espera de ser convidado -, e orgulha-se da sua iniciativa ser bem sucedida.

Sem comentários: