Num país de cultura católica como Portugal, o povo, a comunidade, tem valores que são essencialmente femininos. Quem lhe fornece os valores masculinos necessários ao seu equilíbrio e fecundida é a elite. Na realidade, a elite de um país de cultura católica define-se exactamente por possuír os valores masculinos que o povo não tem (v.g., racionalidade, imparcialidade, capacidade de julgamento, sentido de justiça, autoridade, espírito público, capacidade de pensamento abstracto, sentido do futuro, etc.).
Num país de tradição profundamente católica, o povo - incluindo os homens do povo - possuem valores predominantemente femininos (emotividade, parcialidade, tolerância, compaixão, espírito privado, propensão para valorizar o concreto e o presente, etc.). Aquilo que distingue nesta sociedade o homem de elite do homem do povo é o facto de o primeiro possuír valores masculinos, ao passo que o segundo nunca consegue libertar-se dos valores predominantemente femininos que a comunidade lhe incutiu.
Pretendo ilustrar esta tese - a do comportamento essencialmente feminino do povo de tradição católica - recorrendo a uma situação retirada da vida social que pode parecer surpreendente, mas que deixa de o ser quando nos lembramos que na cultura católica nada é o que parece. Aquilo que pretendo fazer é ilustrar a ideia de que o povo - e neste caso, os homens do povo - de um país de tradição católica se comportam como mulheres, e utilizo o futebol.
O futebol?! Mas o futebol não é essencialmente um espectáculo de homens e apreciado por homens? É. Mas é também a actividade pública onde os homens nos países de tradição católica - Itália, Portugal, Espanha, etc. - mais se comportam como mulheres (outro sector da vida pública onde tal acontece é na política). Eis a actividade pública onde, embora interpretados por homens, os comportamentos dos homens mais são de mulheres.
Estão aqui em jogo dois valores essencialmente femininos - a parcialidade e a palavra como instrumento de agressão - em contraposição aos valores masculinos da imparcialidade e da agressão pela violência física.
Uma mulher é tendencialmente parcial, e esse valor é essencial à sobrevivência da espécie. Tal resulta da sua condição de mãe e da sua maior proximidade ao ser humano. Pobres das crianças nascidas com algum defeito cujas mães achassem imparcialmente que o menino do lado é mais perfeito, e fossem cuidar do menino do lado, abandonando o seu próprio filho. Pelo contrário, a relação do homem com os outros seres humanos, a começar pelos seus próprios filhos, é uma relação muito mais afastada e distante, permitindo-lhe uma imparcialidade de julgamento que não existe nas mulheres.
A palavra é a arma de agressão privilegiada das mulheres, ao passo que os homens agridem preferencialmente pela força física. Não possuindo a capacidade física para agredir, a mulher é especialista em agredir pela palavra, que é também a sua arma privilegiada de defesa. Um homem é capaz de agredir e até torturar fisicamente. Mas nunca será capaz de agredir, até torturar, usando meramente as palavras, como uma mulher consegue fazer.
Voltando ao futebol, os tifosi - a figura extrema de parcialidade e agressividade verbal, e que só poderia ter tido origem na pátria do catolicismo, a Itália - é uma figura normalmente protagonizada por homens, mas que possui estas duas características femininas ao extremo - a parcialidade e uma capacidade extraordinária para agredir pela palavra.
Os tifosi, que existem igualmente em Portugal em abundância, nunca conseguem ser imparciais entre a sua equipa e a equipa adversária. A sua parcialidade é extrema. A sua equipa merecia sempre ganhar o jogo e, se perdeu, foi porque o adversário fez batota ou o árbitro não viu três penalties. As agressões contra a equipa adversária e o árbitro são sempre verbais, e raramente chegam a vias de facto, como seria próprio de homens. Os tifosi fazem lembrar, neste aspecto, a mãe de cultura católica que, quando o seu menino começa a fazer as primeiras diabruras na rua, a culpa nunca é dele, é sempre das más companhias.
Os tifosi são sempre incapazes de aplaudir a equipa adversária quando ganha, reconhecendo o mérito numa atitude de imparcialidade que seria própria de homens. Pelo contrário, só aplaudem a aequipa adversária quando esta perde, e só se fôr por 10-0, numa atitude de compaixão que é própria de mulheres.
Nos programas de televisão sobre futebol, a parcialidade não podia ser mais evidente. Em Portugal, chegam-se a escolher três tifosi - um do Benfica, outro do Sporting, outro do Porto - para que ninguém tenha dúvidas acerca da sua parcialidade. São os programas de televisão com maior audiência no país. Os programas são uma conversa fiada do princípio ao fim, onde todos, cheios de emotividade e exaltação, falam ao mesmo tempo e ninguém tem razão, e de onde não sai nunca um consenso, nem sequer uma conclusão - como é próprio de uma conversa entre mulheres.
E o que dizer daquela concentração excessiva, às vezes exclusiva, dos comentadores na equipa de arbitragem, daquela conversa infindável, sempre parcial e inconclusiva, acerca do árbitro e dos fiscais de linha, as figura do jogo que sendo chamadas a desempenhar funções de autoridade e de imparcialidade, são por isso as únicas possuindo características masculinas? Tipicamente uma conversa de mulheres que, quando se juntam para conversar, têm sempre um tema preferido - homens.
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