Pode uma cultura de deolindas - isto é uma cultura de pessoas que vivem até muito tardiamente em casa dos pais - produzir uma sociedade liberal, no sentido anglo-saxónico do termo, uma espécie de Inglaterra ou EUA?
Não, não pode. A família é uma instituição profundamente anti-liberal e quando as pessoas vivem maciçamente até à meia-idade (às vezes mais) no seio desta instituição, não vão mais conseguir reformar-se.
Primeiro, a família governa-se autoritariamente, e não segundo o valor liberal da democracia.
Segundo, a família está construída sobre o valor da complementaridade entre as pessoas (homem e mulher), e não segundo o valor liberal da competitividade entre elas.
Terceiro, a família é a instituição por excelência onde se pratica o altruísmo, exactamente o oposto do valor liberal do interesse-próprio ou do egoísmo.
Quarto, a família é uma instituição de protecção pessoal e, portanto, conservadora, contrariamente ao valor liberal da propensão pelo risco e pela inovação.
Quinto, a família assenta na dependência pessoal, que é contrária ao valor liberal da auto-suficiência ou da independência pessoal.
Sexto, a família visa realizar o bem comum dos seus membros, ao contrário do valor liberal da realização do bem individual.
Sétimo, a família regula-se por decisões pessoais, e não pelo valor liberal da Lei (The Rule of Law).
Oitavo, a família é uma instituição de redistribuição económica entre os seus membros, contariamente ao valor liberal da compensação pelo mérito.
Nono, a família é uma comunidade fechada, em oposição ao valor liberal da sociedade aberta.
Uma cultura de deolindas nunca produzirá uma sociedade liberal. Pelo contrário, produzirá uma sociedade muito anti-liberal.
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