22 fevereiro 2011

sangue nas mãos

Ontem, à noite, parei diante do televisor, alternando furiosamente entre a CNN, a Sky e a BBC na ânsia de melhor entender os acontecimentos na Líbia. Acabei por me retirar ainda antes do discurso de Kadafi que, apesar de anunciado como iminente, nunca mais chegava. Esta manhã a primeira coisa que fiz foi confirmar se tinha havido discurso ou não e em que é que tinha consistido. E o que é que vi? Vi uma imagem televisiva, uns breves segundos, em que se vislumbra um ridículo Kadafi, abrigado debaixo de um guarda chuva no interior de um veículo, balbuciando qualquer coisa que um tradutor, dobrando em directo, resumiu na seguinte afirmação: "Estou em Tripoli, não na Venezuela".
Enfim, por entre relatos que dão conta de aviões militares a disparar indiscriminadamente sobre a população, o tirano ainda resiste. De todas as revoluções de Jasmim esta é aquela que mais me está a incomodar. Por uma simples razão: está, estava, sempre esteve, à vista de todos, a verdadeira natureza de Kadafi. É um crápula. Um crápula que, nos últimos anos, o Ocidente, mergulhado nos interesses da real politik, recuperou para a cena internacional, apesar de todo o seu historial terrorista de décadas passadas. Resumindo, o Ocidente é co-responsável pelo genocídio que, a esta hora, decorre na Líbia. E todos os governantes ocidentais que, recentemente, cumprimentaram e receberam aquele sanguinário têm agora, eles próprios, sangue a escorrer nas suas mãos. Esta é a recompensa de certa diplomacia económica.

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