É assim que alguma esquerda se remete ao silêncio quando se assiste a práticas degradantes de submissão das mulheres, por exemplo no uso dos véus, na restrição das liberdades individuais, caso dos casamentos forçados, ou mesmo de violência arbitrária sobre os que não seguem dogmas e rituais, pelos vários fundamentalismos. Obnubilados pela defesa intransigente do outro, esta esquerda esquece a defesa da sua própria cultura, dos seus princípios humanistas, do ímpeto libertador enquanto movimento liberal contra o conservadorismo e a opressão.
Por detrás deste contraditório comportamento encontra-se um forte sentimento de culpa herdado do colonialismo. De facto, o Ocidente triturou culturas e povos, cometeu e continua a cometer barbaridades em nome dos seus interesses e visão do mundo. Mas isso não deve levar-nos a confundir o multiculturalismo com cedência à barbárie. Não se pode confundir multiculturalismo com um multimoralismo que relativiza, nos outros, aquilo que para nós é intolerável.
O mau resultado deste multimoralismo está aliás à vista. A abertura do mundo, a acelerada mobilidade de pessoas e mercadorias, as vastas migrações, as crescentes interdependências políticas e económicas, têm gerado um sem número de conflitos que mais do que de natureza cultural ou religiosa são na verdade conflitos de civilização. Multidões de praticantes de modos retrógrados de civilização têm invadido o Ocidente, e a Europa em particular. A situação das mulheres é, neste domínio, particularmente chocante. Mas também o fomento, junto dos jovens, de uma cultura de ódio, racista ou religioso, contra as nossas sociedades democráticas, tolerantes e livres.
Artigo de LM, no JN
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