A semana que agora termina fica marcada, na bolsa portuguesa, pela apresentação dos resultados anuais do BPI. A grande surpresa foi a suspensão do pagamento de dividendos, que foi justificada pela necessidade de reforçar os capitais próprios do banco, e que terá decorrido de uma orientação geral do Banco de Portugal ao sector bancário.
A cotação do BPI, que nesta altura está ligeiramente abaixo de 1,4 euros por acção, reagiu em baixa, ontem após a divulgação do relatório anual, e hoje recupera apenas parte daquela desvalorização. Sendo certo que comentar a bolsa numa base diária pouco acrescenta, a verdade, porém, é que o relatório do BPI, evidenciando alguns aspectos positivos, reflectiu o ajustamento que o sector atravessa e que deriva da difícil conjuntura que se coloca à República Portuguesa.
Começando pelos pontos positivos: tendo o activo do banco diminuído face a 2009, a carteira de crédito, pelo contrário, aumentou (ainda que residualmente). Ao mesmo tempo, tendo em conta que houve uma diminuição na rubrica do Produto Bancário (as suas receitas, segundo o Plano de Contabilidade do sector), não será de crer que os "spreads" (a margem do banco sobre os empréstimos realizados) tenham aumentado de forma significativa. Ou seja, a crítica frequente, segundo a qual os bancos não estão a conceder crédito e que quando o fazem apenas o fazem a um custo muito elevado, parece não se aplicar especialmente ao BPI. Segundo ponto positivo: na estrutura de financiamento do banco, o peso dos recursos de clientes (depósitos) aumentou, que onerando o banco face a outras alternativas mais baratas no passado, tem um poderoso efeito de fidelização de clientes.
Quanto aos aspectos negativos, apesar de o lucro líquido ter aumentado face ao período homólogo, a verdade é que o resultado operacional apresentou uma deterioração significativa ao longo de 2010. Não só diminuiram as receitas (já evidenciado), como aumentaram os custos, traduzindo-se esta conjugação de factores na manutenção de um elevado "cost-to-income" que deverá manter o BPI como o banco menos eficiente entre os cotados no PSI20. A isto acresce a indefinição estratégica associada ao facto de ser um banco que gera mais de metade dos seus lucros no estrangeiro, especificamente em Angola onde já vendeu parte da sua participação local, mas que ambiciona manter-se entre os maiores em Portugal...
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