Na edição de hoje do Público, José Manuel Fernandes publica um excelente artigo intitulado "Este país não tem emenda", que reflecte o corporativismo que ainda persiste na nossa sociedade e que, na minha opinião, é um dos principais males do país.
Tal como muitos portugueses interessados no país, também eu segui com atenção as recentes eleições na Ordem dos Advogados. Em face de tanta crítica pública a Marinho Pinto - dos barões às bases -, confesso que, para mim, a sua reeleição foi uma surpresa. A estupefacção foi tal que, enfim, fez-me lembrar a piada do meu tio Fernando, emigrante em Itália há muitos anos: em Itália, o Berlusconi ganha sempre, mas se, no dia seguinte às eleições, forem perguntar aos italianos se votaram nele todos dizem que não! Ora, regressando à nossa Ordem dos Advogados, depois de tanto terem batido no homem, na hora da verdade, a maioria votou e reelegeu Marinho Pinto. Portanto, só pode ter sido por alguma coisa concreta que o homem tenha proposto. E essa coisa foi como, muito bem escreveu José Manuel Fernandes, restringir o acesso à profissão dos jovens estudantes de Direito que todos os anos saem das Faculdades portuguesas, através da imposição de um exame de acesso ao estágio. Do mesmo modo que Berlusconi garante alguma estabilidade política aos italianos, Marinho Pinto propõem-se garantir alguma estabilidade profissional aos nossos juristas.
Infelizmente, aquela atitude corporativa, a prazo, apenas fomenta a injustiça entre os insiders - aqueles que já pertencem ao sistema - e os outsiders - os que tentam entrar no sistema. Além de que transmite ao país a mensagem errada e que consiste no seguinte: a idade é um posto. Assim, não sendo certo que o corporativismo fomente a qualidade da Justiça - objectivo em torno do qual se deveriam centrar todas as iniciativas da Ordem dos Advogados - podemos, no entanto, ter a certeza de que o corporativismo fomenta a boa vida dos que já estão instalados. Aliás, as ordens profissionais servem, essencialmente, para isso mesmo: para tratar da vidinha dos que já lá estão. E o resto é conversa. Quanto ao que realmente interessa, melhorar a qualidade da Justiça, isso ficou para segundo plano, apesar de todas as declarações bombásticas, e totalmente inconsequentes, que poderemos esperar continuar a ouvir do Dr. Marinho Pinto nos próximos anos.
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