29 dezembro 2010

a economia e a ética... (na perspectiva da irracionalidade)

Mais uma tese de doutoramento da UM
Abstract:
A epistemologia positivista assentou num grande equívoco: acreditava poder atingir a verdade a partir de pressupostos bem delineados que faziam com que se pudesse não só inferir a ciência como, também, em fazer a separação entre ciência e não ciência. A ciência estava dentro de fronteiras entre as quais tudo era explicado por leis universais, válidas no tempo e no espaço. A não ciência era formada por questões de gosto e por realidades abstractas, juizos de valor e pela ética. O equívoco vivia de uma forma simbiótica num pretenso mundo de certezas. As ciências sociais em geral (como a ciência económica em particular) cedo fizeram uma aproximação ao positivismo, cuja metodologia e epistemologia estenderam um tapete às novas ciências sociais emergentes. A economia positiva viria a criar uma espécie de «caixa preta» onde tudo se explica a partir de pressupostos aceites e eticamente neutros. Continuava o equívoco pelas ciências sociais. Este equívoco gerado tornou-se visível na adopção de um racionalismo instrumentalizado que faz rapidamente a melhor afectação dos meios mais adequados aos fins a atingir. Tecnicamente eficiente, o instrumentalismo criou um «homo oeconomicus» abstracto, que acaba por nem ser homem nem ser económico: é uma criação abstacta tal como se tornou a ciência moderna. O paradigma homocêntrico que a modernidade criara, mas que o positivismo, paradoxalmente, desnaturalizou é, agora, desconstruído e reconstruído num novo paradigma a partir de outros vectores (também irracionais) que são transversais ao estar no mundo real, ao esforço de busca da verdade, mas agora voltado para o bem-estar do ser humano que tem de ser livre para poder ser responsável e, responsavelmente, poder realizar o que mais valoriza. A liberdade para ser e para agir exige a presença da responsabilidade “ad intra” e “ad extra”: “ad intra” porque ontologicamente fundante e “ad extra” porque constitutiva da justiça e da equidade. Nesta perspectiva, só um espírito de comunidade será capaz de criar o ambiente de realização e felicidade que volatilize os “gaps” que separam o ter e o ser, tornando prioritário o ser humano em todas as suas dimensões. Num ambiente de relações informais, o exercício da liberdade assume ser o exercício legítimo do humanismo solidário no qual cada homem se realiza não só como indivíduo, mas, essencialmente, na sua relação com os outros. Afinal, o racionalismo económico eficiente (que, também, não deixou de criar os seus próprios desperdícios) acaba por ter de aceitar que o bem-estar é muito mais do que «uma fuga para a frentre»: a recuperação do que foi ficando para trás, sobretudo quando é humano, é essencial a todo o progresso de base humana e social.

PS: Cada vez tenho mais pena da rapariga desdoutorada.

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