11 novembro 2010

sinais do tempo

Os noticiários de ontem à noite evidenciaram a delicadíssima situação do país real. Em Gaia, fechou a Valsans. Mais a norte, à MacTrading, a antiga Maconde, sucedeu o mesmo. E, no Algarve, a Groundforce decidiu descontinuar a operação no aeroporto de Faro. Num só dia, apenas nestes três incidentes, foram mais de 500 pessoas para o olho da rua...
Os exemplos anteriores realçam vários tipos de crise. Em primeiro lugar, a crise económica que inviabilizou a actividade de cada uma daquelas empresas. Em segundo lugar, a crise de valores que, no caso da Valsans e da MacTrading, se traduz em insolvências abruptas e sem escrúpulos, ao arrepio dos direitos legais dos trabalhadores. E, em terceiro lugar, a crise cultural que, infelizmente, também contribui para afundar o país. Gostaria de me focar nesta última e no caso específico da Groudforce.
Na minha opinião, o exemplo da Groundforce é sintomático. Trata-se de uma novela que tenho vindo a acompanhar e que merece destaque. Desde há muito que os responsáveis da TAP, accionista da Goundforce, realçam a operação de Faro como insustentável e geradora de metade dos prejuízos de uma empresa que, sucessivamente, com estes e, também, com outros accionistas, tem sido sempre deficitária. Ontem, houve alguém, um senhor chamado Fernando Melo, que lhe pôs um ponto final. E fê-lo muito bem. Mandou pagar a conta (11 milhões, em indemnizações), mas pôs ordem na situação. Quebrou uma cultura de irresponsabilidade e laxismo (* erro corrigido!) que os seus antecessores lhe tinham deixado e que o sindicato de "handling" queria perpetuar. Entretanto, deixou um aviso: há que rectificar o Acordo de Empresa e as suas extraordinárias disposições.
De acordo com o Diário Económico de hoje, o Acordo de Empresa da Groundforce, entre outras coisas, estipula o seguinte "cada trabalhador tem direito a 20 dias de absentismo por ano e a progressão na carreira obriga a aumentos de 7% por ano". Vejam só: não são 20 dias de férias, são 20 dias de absentismo!! Quanto à progressão na carreira, presumo, deve assentar num sem número de progressões automáticas, provavelmente sem grandes critérios de mérito - como acontece no sector público - premiadas a 7% por ano. Tudo isto numa economia que não chega sequer a crescer...Enfim, é, também, na manutenção desta cultura, resultado das euforias pós-revolucionárias, que está uma parte do problema do país. É, pois, preciso quebrar esta cultura. Por outras palavras, precisamos de mais Fernandos Melos e de menos sindicalistas "esquerda caviar" como o rapaz da melena que ontem na TV defendia os "handlers" de Faro. Só assim se conseguirá aumentar a nossa produtividade e, por consequência, aumentar a nossa competitividade.

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