08 novembro 2010

separar as árvores da floresta

A Fitch reviu hoje em baixa a notação de risco dos quatro principais bancos privados portugueses. Na sequência do anúncio, o BES decidiu cortar relações institucionais com a agência. E o BCP, num registo mais suave, disse que a análise da Fitch não tem fundamento. Mas de acordo com o comunicado daquela notação de risco, a decisão teve por base o aumento do risco de financiamento e liquidez dos quatro bancos envolvidos, bem como o aumento do recurso ao Banco Central Europeu.
Ora, pela primeira vez desde há muito, não vejo mérito na avaliação da Fitch no que toca às entidades agora avaliadas. Pelo contrário, creio que a indignação do BES e do BCP é justificada. Citando de memória - nos casos do BES, BCP e BPI - os recursos de bancos centrais, nomeadamente do BCE, não representam mais do que 6% do total do passivo (o BES é o mais exposto). E no caso dos recursos representados por títulos, ou seja, dívida emitida pelos próprios bancos nos mercados doméstico e internacional, o mais exposto é o BCP que nesta rubrica concentra cerca de 20% do seu passivo. Enfim, a economia portuguesa não está bem, mas, na ausência do risco de um "default" imediato da República Portuguesa - que no actual enquadramento institucional europeu não ocorrerá, pelo menos, não sem antes se accionar o FMI e o EFSF - não há razão para tanto alarme no que diz respeito aos bancos portugueses.
Há, contudo, um problema de credibilidade que, nos próximos dias, estes mesmos bancos terão dificuldade em combater: a escalada dos juros da dívida pública portuguesa, que, agravando a imagem do país no exterior, tornará impossível separar as árvores da floresta.

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