A ideia de liberdade germânica, que deriva da concepção de Estado de Direito, e a ideia de liberdade britânica, inspirada na The Rule of Law, possuem um elemento comum. Em ambos os casos, um homem é livre se não estiver submetido a nenhuma autoridade pessoal, e é aqui que ambas exibem o seu denominador comum protestante.
Depois, existe uma diferença. Na concepção germânica um homem é livre se, não tendo de se submeter a nenhuma autoridade pessoal, se submete inteiramente à autoridade da comunidade, tal como expressa por leis democraticamente aprovadas. Na concepção britânica, um homem é livre se, não tendo de se submeter a nenhuma autoridade pessoal, não tem também de prestar contas à comunidade. Não obstante, nesta útima concepção um homem está ainda sujeito à coacção da comunidade - não através do processo político e da autoridade do Estado, como na concepção germânica - mas através de processos sociais espontâneos de que o principal é o mercado.
É a rejeição da autoridade suprema e absoluta de um homem - originalmente, a autoridade do Papa - para condicionar a vida humana que caracteriza a ideia de liberdade protestante. Dir-se-ia que logo que se libertaram da tutela da Igreja Católica e da autoridade do Papa, os países que foram o centro da Reforma protestante - a Alemanha, a Suíça, a Grã-Bretanha - explodiram numa orgia de liberdade.
Mas não foi isso que aconteceu. Começaram por se dividir em facções (católicos e protestantes, e depois em múltiplas facções dentro do protestantismo), e, em seguida, envolveram-se em guerras de morte em que cada facção procurava aniquiliar as outras. A Guerra dos Trinta Anos é a mais conhecida, com uma dezena de milhões de mortos. Na Grã-Bretanha a desordem civil instalou-se e só foi restaurada com a proibição do catolicismo que durou cerca de um século e que ainda hoje se mantém para o acesso a certos cargos públicos. E esse libérrimo país que são os EUA nasceu sob o signo da proibição do catolicismo.
So much for liberty.
Sem comentários:
Enviar um comentário