Seguindo o sábio conselho de E. O. Wilson, gostaria de declarar, desde já, que a minha opinião pode estar errada.
O que é a ética? A ética é o capítulo da filosofia que trata do Bem e do Mal. Estuda a origem destes conceitos, descreve a sua presença na sociedade e, por fim, elabora normas de conduta consideradas Boas.
As regras éticas vigentes (is) ou recomendáveis (ought) servem o propósito de pacificar a vida em sociedade, regendo o relacionamento entre todos e penalizando comportamentos desviantes.
Para que a ética funcione, todas as normas éticas têm de ter eco no sentimento das pessoas. Têm de corresponder à natureza humana (NH) e à cultura dominante. Caso contrário, ninguém as respeitaria e ninguém as poderia fazer cumprir.
Algumas regras estão escritas no coração dos homens (Agostinho), outras resultam de um processo de construção social e só indirectamente se relacionam com as primeiras.
A proibição do incesto, considerado um Mal absoluto, é um exemplo de regra moral que está escrita no coração dos homens e que está presente em todas as sociedades humanas. O direito à vida, pelo contrário, é muito mais recente e depende da civilização e da cultura.
Recordo apenas que a proibição da escravatura tem pouco mais de 200 anos e que aos escravos não eram reconhecidos quaisquer direitos. Na antiguidade, por exemplo, os escravos podiam ser mortos pelos donos sem quaisquer explicações. Actualmente, a cultura islâmica não parece reconhecer o direito à vida dos infiéis e os mujahideen conduzem a jihad segundo esse preceito.
O direito à propriedade (o mais sagrado de todos, no dizer de Adam Smith) não tem reconhecimento universal, embora seja dos que estão escritos no coração dos homens. Dos homens e até doutros animais que connosco partilham a Terra.
O que hoje está errado já foi considerado certo noutros tempos. A ética deve portanto buscar o imutável enquanto deixa espaço para os preceitos que dependem da cultura da época.
Será possível fundar toda uma ética política na premissa da propriedade absoluta do indivíduo sobre si próprio, como pretende Rothbard? A minha resposta a esta pergunta é não.
Como biólogo (médico) estou inclinado a considerar a vida como um valor supremo, mas tenho de afirmar que a sobrevivência da espécie tem primazia sobre os indivíduos. Esta constatação resulta do facto indiscutível de que nenhum ser humano pode sobreviver (e perpetuar a sua existência) sozinho no mundo. O direito à vida depende da existência do colectivo.
O indivíduo deve portanto estar submetido aos desígnios da espécie, ao que se chama Bem Comum e toda a ética deve corresponder a este fim. E como é que descobrimos o que é o Bem Comum?
O conceito tem evoluído, como demonstrei, mas todos os seres humanos estão dotados pela natureza e pela educação que receberam (nature and nurture) para efectuar julgamentos éticos e buscarem esse Bem Comum. Julgamentos que para terem qualquer validade têm de ser "legitimados" pela grande maioria da população (têm de ter eco no sentimento da grande maioria das pessoas).
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