06 maio 2010

à mesa do café (II)


O eurodeputado Vital Moreira escreve hoje o seguinte: "os efeitos recessivos da disciplina financeira devem ser contrabalançados por iniciativas de investimento público, sobretudo quando assentes predominantemente em financiamento privado (portanto sem agravar o défice e a dívida pública) e tenham efeitos multiplicadores na dinamização da actividade económica e no emprego. Daí a importância dos projectos de infra-estruturas públicas, que cumprem esses dois requisitos."

Na minha opinião, Vital Moreira está francamente equivocado. Sendo certo que as grandes obras públicas serão financiadas essencialmente por empresas privadas, a verdade é que esse financiamento terá origem, directa ou indirectamente, no exterior, agravando ainda mais o endividamento externo associado à economia nacional e com isso o risco de contágio grego. Porém, o equívoco maior surge mais à frente. É que quanto ao efeito multiplicador das grandes obras públicas, os estudos que existem, aqueles que são mais credíveis, indicam precisamente o contrário daquilo que afirma o eurodeputado. Ou seja, que, em média, as grandes obras públicas têm um efeito multiplicador negativo, em particular quando já existem infra estruturas alternativas. Pelo menos foi essa a conclusão do estudo do Congressional Budget Office norte-americano - o equivalente à nossa Direcção Geral do Orçamento -, publicado em Janeiro passado (ver tabela 1 da página 18, "Investing in Infrastructure"), e que "enterrou" o programa de obras públicas que Obama tanto tinho defendido quando, ainda, andava em campanha.

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