Vi a entrevista de Pedro Passos Coelho a Miguel Sousa Tavares sem reserva mental. Imagino-o sob a tensão natural de um líder recém-eleito, com a obrigação de impressionar favoravelmente. Daí o desconto que lhe tenho de dar à forma ténue como foi explicando o que quer para o país. Admito que, com o tempo, Passos Coelho consiga ser mais claro e perceptível. Também não ignoro que ele governa um partido de poder na oposição e que para cativar votos precisa, primeiro, de os não afugentar. Por isso, não me espanta o discurso moderado, de compromisso, sem rupturas e sem entusiasmos excessivos com posições “liberais” ou de diminuição significativa do peso do estado na sociedade e no país. É o que é expectável de um líder do PSD, e é o que todos eles, sem excepção, nos têm oferecido ao longo dos anos. O que infelizmente impressiona negativamente em Passos Coelho é a falta de entusiasmo, de convicção e de alegria com que nos fala. Há algo no seu semblante carregado de um homem que tem sobre si um peso insustentável para as suas forças que o entristece e deprime. Ao longo de toda a entrevista, Passos não conseguiu esboçar um sorriso, nem transmitir a sensação de estarmos perante um homem alegre, confiante e seguro. É, pelo contrário, um homem apreensivo e triste, sem chama, aparentemente com um peso existencial muito grande sobre si. Se Passos quer conquistar o país terá de nos transmitir alento e esperança, e não apenas um discurso racional, também ele, por sinal, ainda mal estruturado. A racionalidade do discurso poderá melhorar com preparação e treino. A emotividade vem de dentro, e Passos Coelho terá de se aceitar a si mesmo, antes de nos tentar convencer a aceitá-lo.
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