26 abril 2010

três notas

Três notas sobre este post do Pedro Arroja:

1. Eu não questiono a importância da cultura católica na identidade nacional portuguesa. Descreio é na hipótese de, a partir dela, se edificar uma teoria política e de governo, coisa bem mais prosaica e que não deve confundir-se com assuntos daquela elevação.

2. Também não julgo que Portugal seja um bom exemplo de respeito pelo Papa ou pela hierarquia da Igreja Católica. Em post aqui publicado há uns dias, dei alguns exemplos da falta de respeito que por eles tiveram, ao longo de boa parte da nossa história, muitos dos nossos reis e governantes. O sentimento anticlerical é também muito comum na cultura e na literatura portuguesa, como também aí aludi. Quanto à opinião publicada dos nossos dias, julgo que os blogs são um bom exemplo disso mesmo.

3. Eu não defendo qualquer sistema político hermético, liberal ou outro, para Portugal ou para qualquer outra parte do mundo. Sou, a esse propósito, um obediente seguidor do que dizia Fernando Pessoa: «A experiência ensina que a vida é mais uma coisa flutuante e incerta, cheia, por mais que busquemos prever, de surpresas e contingências imprevisíveis – imprevisíveis, sem dúvida, porque procedem de leis que ignoramos, e, provavelmente, em grande parte, ignoremos sempre. Todo o pensador de sistemas fixos, todo o organizador de conjuntos definidos, sofre fatalmente desilusões, quando não desastres». Mas acredito que um pouco mais de liberdade civil, baseada no respeito pela propriedade, na liberdade de escolha e nos cada vez mais ausentes direitos individuais, nos faz muita falta. E não foi essa liberdade que lançou o país na guerra civil de 32-34, do século XIX, mas precisamente a falta dela e de um normal Estado de Direito, que evitasse que dois irmãos desavindos pelo controlo do poder tivessem lançado o país no desastre, como lançaram. Ambos eram, por sinal, católicos, sem que isso os tenha feito ponderar nas irresponsáveis consequências dos seus actos.

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