Os portugueses sofrem de um excesso notável de imaginação, em quase todas as áreas do conhecimento. Então na política somos campeões.
Gostaria de destacar aqui, a título de exemplo, um dos grandes contributos pátrios para os tratados de “ciência política”, uma força que emergiu com o Cavaquismo e que parece estar de novo na moda. O liberalismo de Estado.
O liberalismo de Estado, como o nome indica é uma ideologia de fusão, inspirada talvez na moderna cozinha de fusão. Mistura os ingredientes dos pratos tradicionais com paladares e temperos exóticos para criar algo de novo. No caso em análise, mistura o socialismo caseiro com o liberalismo norte-americano e/ou dos países emergentes. Por vezes com umas pitadas de paladares orientais ou até eslavos.
E em que consiste o liberalismo de Estado?
Consiste na preservação sagrada das estruturas colectivistas que herdámos do 25 de Abril (do tempo em que o Sol vinha de Moscovo) com a adopção simultânea de soluções empresariais que visam ultrapassar as limitações do colete de forças socialista. Para agilizar processos, como dizia o bom do Vara.
Poderia dar muitos exemplos do liberalismo de Estado, mas vou-me limitar à saúde, por ser a área que conheço melhor.
O Estado manteve intacta toda a filosofia do SNS, nos últimos 30 anos, mas empresarializou um número considerável de unidades públicas para obter níveis de produtividade idênticos aos do sector privado. O resultado foi a descaracterização total do SNS e, como consequência dos “ganhos de produtividade conseguidos”, um agravamento monstruoso do défice orçamental (que em 2009 julgo ter atingido os 1.000 M€). Sem que o resultado tivesse contribuído para qualquer melhoria da saúde da população.
Seria preferível, quanto a mim, manter a velha orgânica, sem travestismos.
As soluções híbridas parecem ir buscar o pior de cada um dos sistemas.
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