14 abril 2010

associal

Estou completa, absoluta e radicalmente farto do “social”. A palavra ensombrou a III República, constituiu-se em património político intocável, e transformou uma sociedade que podia e devia ser de homens livres numa amálgama inerte de dependentes e escravos. O “social” domina a nossa mentalidade e a nossa política. Algures na fundação do regime fomos convencidos que a política é a arte do “social”, isto é, da utilização pública de recursos privados para a promoção da felicidade geral e do bem-estar universal. Cada partido político – da esquerda à direita – propõe-se melhorar a sociedade e promover o desenvolvimento social. Cada programa de governo reduz-se à obtenção de recursos para políticas sociais. O que distingue os nossos partidos são as suas propostas quanto aos investimentos sociais e às formas que eles entendem mais correctas para o desenvolvimento social. Nas grandes áreas de intervenção, todos estão de acordo e nenhum se atreve a bulir. Esta mentalidade e esta prática políticas geraram uma cultura de irresponsabilidade e de divórcio das pessoas da realidade. Os portugueses não procuram eleger quem os deixe trabalhar e quem lhes ofereça melhores condições e oportunidades para programarem as suas vidas e vivê-las livre e responsavelmente. Os portugueses procuram ser governados por quem se proponha oferecer-lhes melhores condições de vida e não melhores condições para poderem viver.

É nesta falácia em que permanecemos de há muito e o resultado está à vista. Por isso, o que se espera de um partido que queira refundar a República e relançar o país e a economia, não são propostas de “Economia Social”. O Fernando Sá que me perdoe, já que foi o seu post no Albergue Espanhol que me suscitou estas inquietações, mas do que precisamos não é de uma “Economia Social”, mas de uma Economia. Do que precisamos é de um partido e de um governo que nos digam claramente e sem tibiezas que o modelo actual está esgotado e que nunca deveria ter sido posto em prática. De um governo que ponha a justiça a funcionar, que não gaste recursos privados em despesismo público, que privatize as funções “sociais” do estado, isto é, que devolva à sociedade o que lhe compete fazer, que reduza seriamente a tributação sobre as pessoas e as empresas permitindo-lhes acumular capital e produzir riqueza, que venda as posições que detém em empresas suas ou “privadas”, que reduza consideravelmente o aparelho político do estado.

Enquanto a nossa direita continuar a apostar no “social” como modelo político, não só não sairemos donde estamos como agravaremos considerável e irremediavelmente o estado geral do país e a nossa vida social e comunitária.

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