Quando o homem é visto como um indivíduo, e não mais como uma pessoa (cf. meu último post), dotada de atributos que são distintivos, únicos e irrepetíveis - a sua personalidade - a consequência imediata é a desvalorização da vida humana. Na realidade, no meio de seis mil milhões de indivíduos que habitam o mundo, e que são essencialmente iguais, que falta fazem cá 30, 50 ou mesmo 100 milhões?
Não surpreeende que o maior holocausto que a humanidade já conheceu tenha tido origem na pátria de Kant. Na realidade, que falta faziam cá os 50 milhões que morreram na Segunda Guerra Mundial? Nenhuma. Fazem-se outros. Leonard Peikoff, o filósofo objectivista discípulo de Ayn Rand, está certo quando situa as origens do nazismo nas ideias de Kant. Este é o filósofo moderno mais destruidor, - ele próprio na sua nativa Konisberga tinha a alcunha de "O Destruidor" - o pior inimigo da paz, um homem cujo pensamento é totalmente alheio à tradição católica. O Dicionário Católico refere-se assim às doutrinas de Kant (A Enciclopédia Católica não lhe dedica qualquer entrada) (*)
"Kantianismo - A filosofia baseada no pensamento de Immanuel Kant (1724-1804) que defendeu que a experiência, ou o conteúdo do conhecimento, deriva da percepção dos sentidos, mas que a sua forma é determinada pelas categorias a priori do pensamento. Kant também assume as ideias da existência de Deus e da imortalidade, mas considera que elas não podem ser provadas. O kantianismo tem sido considerado útil por certos teólogos protestantes, mas não pode ser harmonizado com a teologia católica"
"Kantianismo - A filosofia baseada no pensamento de Immanuel Kant (1724-1804) que defendeu que a experiência, ou o conteúdo do conhecimento, deriva da percepção dos sentidos, mas que a sua forma é determinada pelas categorias a priori do pensamento. Kant também assume as ideias da existência de Deus e da imortalidade, mas considera que elas não podem ser provadas. O kantianismo tem sido considerado útil por certos teólogos protestantes, mas não pode ser harmonizado com a teologia católica"
(Catholic Dictionary, Huntington, Indiana: Our Sunday Visitor Inc., 2002, p. 439).
Mais recentemente, a doutrina neoconservadora nos EUA que levou à invasão do Iraque, é ainda baseada largamente no pensamento de Kant, e no seu individualismo sem alma. A invasão foi, em parte, ditada pelas boas intenções de levar a democracia ao Iraque, pois "Se a democracia é boa para os americanos, também há-de ser boa para os iraquianos". A ideia de levar a democracia-liberal a todo o mundo, e não apenas ao Iraque, como solução divina e definitiva para os problemas da humanidade é a tese central de Fukuyama e do "Fim da História" - uma tese que pretende realizar na prática a "Paz Perpétua" de Kant. Porém, em lugar da Paz, o resultado é invariavelmente a Guerra e o imperialismo - que é a ambição protestante de imitar a universalidade católica.
(*) É claro que seria um exagero atribuir exclusivamente a Kant a responsabilidade pela desvalorização moderna da pessoa humana, devida à substituição do paradigma cristão (católico) de que a verdade está no homem para o paradigma moderno (protestante) de que a verdade está nos factos, o qual acaba por tornar o homem também e meramente um facto. Mais exacto será dizer que esta mudança atingiu a sua plenitude em Kant (Ratzinger, op. cit. p. 58), mas teve a sua origem mais remota em Descartes e passou por David Hume. Giambatistta Vico (1668-1744) foi provavelmente o seu precursor (Ratzinger, p. 59)
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