15 fevereiro 2010

num equilíbrio adequado

No próximo mês de Abril vai realizar-se no Vaticano uma conferência sobre o tema da "Comunicação da Igreja Católica" (cf. aqui). Este é um tema muito caro ao Papa Bento XVI. Sendo ele próprio um excelente comunicador e um grande teólogo, ele sente que a Igreja não tem sido eficaz a passar a sua mensagem. Mais, ele tem frequentemente apelado aos leigos para que ajudem a Igreja nesta matéria. Será esse um dos propósitos da conferência.
Eu não poderia estar mais de acordo acerca da relativa ineficácia da comunicação da Igreja. Tipicamente a comunicação católica parte da teologia e evolui então para os temas da sociedade, como a política, a moral, a economia, o direito, etc. Aqui reside a sua primeira e talvez mais importante dificuldade. A teologia católica é uma teologia complexa, e não podia ser de outro modo. As religiões cujas teologias são simples e não oferecem qualquer mistério ou complexidade, nunca duraram. Estão neste caso várias das heresias protestantes, senão mesmo todas.
Numa época de mensagens rápidas, e pouco dada a reflexões profundas sobre a vida, o ênfase na teologia é um factor decisivo e desencorajador para quem, honestamente, queira conhecer a doutrina católica. Aquilo que me parece eficaz fazer é o percurso exactamente contrário. Começar com a doutrina social da Igreja - a doutrina católica sobre a sociedade e a economia - e deixar então que cada um aprofunde os seus fundamentos até chegar onde, inevitavelmente, acabará por chegar - a Deus.
Neste processo, eu não hesitaria em colocar a doutrina católica ao nível de qualquer doutrina ou ideologia moderna - socialismo, liberalismo, anarquismo, fascismo, nazismo, conservadorismo, etc. - procurando depois demonstrar por argumento racional e lógico, que a doutrina católica é superior a qualquer uma delas. Na realidade, que as engloba a todas. Se a minha intuição não me engana, eu penso que é possível demonstrar que qualquer um desses ismos não é mais do que a exageração de algum princípio fundamental defendido pela Igreja Católica (liberdade, igualdade, autoridade, caridade, tradição, propriedade privada, etc.) e, nesse sentido, não é mais do que uma heresia particularista.
Como Lord Acton notou há mais de um século (cf. aqui) , o catolicismo possui todos os ingredientes necessários a uma sociedade livre. Aquilo que o distingue de todos os outros ismos é que ele os combina a todos num equilíbrio adequado. O catolicismo reconhece o mérito da democracia, mas não da democracia ilimitada. Ele atribui valor à liberdade, mas não a uma liberdade ilimitada. Ele prega a igualdade entre os homens, mas não uma igualdade absoluta. Ele defende a propriedade privada, mas não exclui a propriedade pública. Pelo contrário, qualquer um dos outros ismos pega em algum ou alguns destes princípios e leva-os até ao extremo. Reside aqui o seu grande pecado e a razão primordial dos seus invariáveis falhanços.
Existe um outra vantagem importante nesta abordagem do catolicismo, que é a de começar a sua apresentação com as armas da razão, ao passo que a abordagem tradicional, que caminha da teologia para os temas da sociedade, põe o ênfase na fé. A fé - escreveu o Papa Bento XVI - é o limite da razão. Começar pela fé é, então, começar pelo fim, e este tem constituido um erro comunicacional profundo da Igreja Católica. O catolicismo é uma doutrina eminentemente racional e não deve recear o confronto neste plano com qualquer outro ismo, como o socialismo ou o liberalismo. Pelo contrário. No plano estritamente racional, eu estou convencido que o catolicismo derrota qualquer outro ismo em menos de um fósforo.



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