Quem se surpreende com a candidatura “rebelde” de Manuel Alegre à Presidência da República e a considera uma deslealdade contra o seu partido, surpreende-se e avalia-a mal. Na tradição socialista portuguesa, os candidatos ganhadores anteciparam-se sempre à decisão oficial do partido, avançando até muitas vezes contra ela. Foi assim com Mario Soares em 1985, quando arrancou com fortes resistências dentro do PS, sobretudo do sector mais próximo de Eanes, que via a candidatura motivada por ressentimentos pessoais em relação ao presidente cessante, não acreditava no seu êxito (as primeiras sondagens davam-lhe pouco mais de 6%) e pretendia que o partido apoiasse uma candidatura mais “abrangente” à esquerda, nomeadamente a de Salgado Zenha. Foi assim com Jorge Sampaio em 1995, que avançou sózinho sem o apoio da direcção do partido, onde os soaristas, que não lhe perdoavam os tempos do secretariado, pretendiam que fosse Jaime Gama o candidato. E é agora assim com Alegre, pela segunda vez consecutiva. Só que, desta vez, será muito difícil o partido negar-lhe apoio formal, sobretudo depois do que sucedeu nas eleições anteriores. Daqui a ganhá-las já a conversa é outra.
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