A direita indígena, sobretudo a do PSD, anda satisfeitíssima com as desventuras do Presidente da República, o cidadão Aníbal Cavaco Silva.
Ao longo de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, durante os quais, com raríssimas excepções, não deu um pio para questionar o líder incontestável, essa direita do PSD rastejou aos pés de Cavaco, subjugou-se a Cavaco, não deu um passo sem antes perscrutar as palavras de S. Ex.ª, os silêncios de S. Ex.ª, os recados de S. Ex.ª, os esgares e os trejeitos de S. Ex.ª, para lhe tentar adivinhar as vontades e as intenções. Quando S. Ex.ª anunciou a retirada da vida política, lá para os idos de 1995, logo um coro de lamentações se ergueu. No momento imediato, todos, mas todos sem excepção, eram filhos e herdeiros de Cavaco, sugerindo intimidade com S. Ex.ª, e garantindo fidelidade aos princípios, ao pensamento e à acção de S. Ex.ª. Quando a Excelência se remeteu a um longo silêncio sobre o seu futuro político (que negava peremptoriamente poder existir), todos proclamaram em vozes circunspectas e em tom de surdina – para não sobressaltar S. Ex.ª – que ninguém – ninguém! – tinha autoridade ou legitimidade para exigir a S. Ex.ª que despertasse da letargia a que humanamente se dedicara. O tempo era de S. Ex.ª, e tudo que a pudesse importunar não seria admissível. Quando S. Ex.ª anunciou a parábola política da “moeda boa e da moeda má”, logo os inúmeros admiradores venerandos de S. Ex.ª exultaram de gozo e rejubilaram de prazer. S. Ex.ª estava viva e atenta, e pusera na devida ordem alguns seres inferiores que não lhe tinham o amor e a devoção necessários à contemplação da sua magnificência. Mas, o orgasmo total, o prazer máximo e absoluto, o delírio, o êxtase, o Nirvana chegaram – finalmente – num dia de nevoeiro, quando S. Ex.ª anunciou no Mausoléu de Belém, que anos antes mandara erguer para perpetuar a sua Glória, que regressaria ao convívio dos simples e mortais. Regressou em ombros, em apoteose, em triunfo, sobre um tapete rastejante de admiradores, discípulos e servos esperançados. S. Ex.ª vinha pôr isto na ordem!
Agora, S. Ex.ª parece outro. Já não tem aquela afirmação e autoridade que antes todos lhe viam e temiam. Já não manda, nem comanda. E há mesmo quem lhe falte ao respeito e que garanta que ele é, como Sócrates, humano, logo, mortal. Como Sócrates, o outro, claro, não o nosso que está a um pequeno passo de comprovar a sua imortalidade política, própria de uma nova e irresistível Excelência. Cavaco já sai depreciativamente nas primeiras páginas dos jornais, logo ele, que antigamente nem os lia, e faz até comunicações ao povo para os comentar, como um vulgar comentador político. Como se o povo estivesse interessado no que diz, que não fosse para o desdizer. O Cavaquencis Excelentissimus já era, e a direita do PSD tem que lhe arrear, arrear tão ou mais forte, se possível, do que a concorrência. Ao fim de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, tem que demonstrar que tem vida própria e que não depende dele para nada. Que ele até lhe é prejudicial e que, se calhar, as eleições foram perdidas pela sua nefasta influência, já que o partido, o PÊÉSSEDÊ, não teve nisso qualquer responsabilidade. Em contrapartida, há quem ache conveniente não o apoiar nas próximas eleições presidenciais. Se bem que o melhor, o que era mesmo conveniente,caso o homem tivesse um lampejo de lucidez, seria nem se candidatar, ir-se embora, emigrar para o Pulo do Lobo, e quanto mais depressa melhor.
Esta direita sensata repele e incomoda. É um nojo.
Ao longo de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, durante os quais, com raríssimas excepções, não deu um pio para questionar o líder incontestável, essa direita do PSD rastejou aos pés de Cavaco, subjugou-se a Cavaco, não deu um passo sem antes perscrutar as palavras de S. Ex.ª, os silêncios de S. Ex.ª, os recados de S. Ex.ª, os esgares e os trejeitos de S. Ex.ª, para lhe tentar adivinhar as vontades e as intenções. Quando S. Ex.ª anunciou a retirada da vida política, lá para os idos de 1995, logo um coro de lamentações se ergueu. No momento imediato, todos, mas todos sem excepção, eram filhos e herdeiros de Cavaco, sugerindo intimidade com S. Ex.ª, e garantindo fidelidade aos princípios, ao pensamento e à acção de S. Ex.ª. Quando a Excelência se remeteu a um longo silêncio sobre o seu futuro político (que negava peremptoriamente poder existir), todos proclamaram em vozes circunspectas e em tom de surdina – para não sobressaltar S. Ex.ª – que ninguém – ninguém! – tinha autoridade ou legitimidade para exigir a S. Ex.ª que despertasse da letargia a que humanamente se dedicara. O tempo era de S. Ex.ª, e tudo que a pudesse importunar não seria admissível. Quando S. Ex.ª anunciou a parábola política da “moeda boa e da moeda má”, logo os inúmeros admiradores venerandos de S. Ex.ª exultaram de gozo e rejubilaram de prazer. S. Ex.ª estava viva e atenta, e pusera na devida ordem alguns seres inferiores que não lhe tinham o amor e a devoção necessários à contemplação da sua magnificência. Mas, o orgasmo total, o prazer máximo e absoluto, o delírio, o êxtase, o Nirvana chegaram – finalmente – num dia de nevoeiro, quando S. Ex.ª anunciou no Mausoléu de Belém, que anos antes mandara erguer para perpetuar a sua Glória, que regressaria ao convívio dos simples e mortais. Regressou em ombros, em apoteose, em triunfo, sobre um tapete rastejante de admiradores, discípulos e servos esperançados. S. Ex.ª vinha pôr isto na ordem!
Agora, S. Ex.ª parece outro. Já não tem aquela afirmação e autoridade que antes todos lhe viam e temiam. Já não manda, nem comanda. E há mesmo quem lhe falte ao respeito e que garanta que ele é, como Sócrates, humano, logo, mortal. Como Sócrates, o outro, claro, não o nosso que está a um pequeno passo de comprovar a sua imortalidade política, própria de uma nova e irresistível Excelência. Cavaco já sai depreciativamente nas primeiras páginas dos jornais, logo ele, que antigamente nem os lia, e faz até comunicações ao povo para os comentar, como um vulgar comentador político. Como se o povo estivesse interessado no que diz, que não fosse para o desdizer. O Cavaquencis Excelentissimus já era, e a direita do PSD tem que lhe arrear, arrear tão ou mais forte, se possível, do que a concorrência. Ao fim de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, tem que demonstrar que tem vida própria e que não depende dele para nada. Que ele até lhe é prejudicial e que, se calhar, as eleições foram perdidas pela sua nefasta influência, já que o partido, o PÊÉSSEDÊ, não teve nisso qualquer responsabilidade. Em contrapartida, há quem ache conveniente não o apoiar nas próximas eleições presidenciais. Se bem que o melhor, o que era mesmo conveniente,caso o homem tivesse um lampejo de lucidez, seria nem se candidatar, ir-se embora, emigrar para o Pulo do Lobo, e quanto mais depressa melhor.
Esta direita sensata repele e incomoda. É um nojo.
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