As opções políticas não devem ser misturadas e baralhadas com análises técnicas. O resultado deste exercício retira autoridade aos seus autores e confunde os cidadãos.
Ora, quando um grupo de pessoas produz um manifesto sobre política de saúde, para esclarecer os eleitores sobre as opções dos diferentes partidos e cai no erro que referi, o resultado é exactamente o oposto do que dizem pretender. O resultado é propaganda!
No texto deste manifesto pede-se "transparência" e afirma-se que, nas próximas eleições há duas alternativas:
Na medida em que estas alternativas não forem claramente assumidas perante os cidadãos, estes não podem verdadeiramente escolher em consciência – e este é um dos problemas que enfrentamos nas eleições do próximo dia 27 de Setembro.
E, no entanto, essas alternativas, que, por uma ou outra razão, não se expõem abertamente, podem facilmente descodificar-se da análise dos programas expostos:
1. Cuidados de saúde vistos como um bem como outro qualquer, num mercado como outro qualquer, em que o Estado se assume essencialmente como entidade financiadora, passando consequentemente, os serviços públicos na Saúde ter um papel progressivamente residual (PSD).
2. A Saúde, abordada nas suas múltiplas dimensões, centrada num SNS descentralizado e próximo das necessidades e escolhas das pessoas, complementado e cooperando com um sector social e privado dinâmico e moderno (PS).
Qualquer um destes cenários é fantasioso porque são apenas “leituras”, descodificações que apenas servem os desígnios dos seus autores. Contudo é claro que o programa do PSD é favorável a mais escolha na saúde e o programa do PS está mais focado na exclusividade do SNS.
Mais escolha conduzirá à ruína do SNS? Claro que não, só se o SNS não se modernizasse. E eu pergunto, será credível que o SNS se modernize sem estar sujeito a qualquer concorrência? Com certeza que não. Nenhum monopólio de Estado se moderniza sem pressões externas. Afirmar o contrário é propaganda.
Sem comentários:
Enviar um comentário