26 setembro 2009

séculos de experiência


Os portugueses têm uma grande tradição de se espiarem uns aos outros. Em Espanha é idêntico, na realidade, pior ainda. Foram eles os autores da célebre Spanish Inquisition, que os portugueses imitaram com a devida vénia.

Nesta matéria, não se pode subestimar o povo que inventou essa muito extraordinária instituição que é o auto-da-fé, uma instituição de tal modo genuinamente ibérica que a expressão não encontra tradução em qualquer outra Língua. É a investigação pessoal levada ao extremo procurando descortinar as intenções mais íntimas que existem no espírito de uma pessoa. Como tal exercício é praticamente impossivel, normalmente acabava numa atribuição de intenções, seguindo-se a condenação. A atribuição de intenções ficou, assim, também como outra característica da cultura ibérica.

Esta tradição de meter o nariz na vida dos outros, e meter o nariz na mais íntima espiritualidade dos outros, deixou marcas profundas na cultura ibérica. Não existem na Civilização povos mais eficazes para cheirar a vida dos outros, nos seus mais íntimos detalhes, do que os espanhóis e os portugueses. Foram séculos de experiência.

Estes são países, portanto, onde as pessoas são efectivamente espiadas ou ficam paranóicas com a possibilidade de estarem a ser espiadas. Está em curso um grande caso destes em Portugal. Também existe um em Espanha - no Barcelona F. C.:

"Poco a poco, florecen detalles de lo acontecido, con matices que varían según las fuentes. Está claro que la historia empezó en abril, cuando Joan Franquesa, vicepresidente del área institucional y de patrimonio, pidió ayuda a Xavier Martorell, responsable de seguridad de la entidad, al sospechar que podía estar siendo investigado tras filtrarse que podía encabezar la candidatura continuista de cara a las próximas elecciones.
Franquesa aceptó la idea de Oliver de someterse a una auditoria de seguridad. Semanas después, el día que pasó por el club para recoger el resultado de las pesquisas, descubrió casi por casualidad que Oliver había hecho extensiva la investigación -por 56.000 euros- a otros tres vicepresidentes (Ferrer, Boix y Yuste) sin que estos lo supieran. Días después, durante una comida organizada por Laporta en un japonés para convencerles de los beneficios que reportaría incorporar a Xavier Sala como directivo, el presidente ante la reticencia que mostraban los vicepresidentes, les pidió confianza: "¿Cómo vamos a confiar en ti si tú no confías en nosotros y nos investigas?", le soltó uno de los afectados.
Laporta, según protagonistas de la escena, montó en cólera y defendió a Oliver, en cuyo despacho terminó la comida. Allí, el ejecutivo reconoció que era todo cierto y obtuvo respuesta: uno de los damnificados le pilló por el cuello, indignado. Pero no dimitió nadie ni Laporta cesó a Oliver. En una junta posterior, un directivo pidió la cabeza del director general: "Ya ha pedido perdón, ¿qué más queréis?", le defendió Laporta, amparándose en la situación deportiva del club, que se jugaba tres títulos en un mes crucial, para exigir que el silencio sepultara lo acontecido sine die."
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