Como é que a esquerda se distanciou tanto do povo? Apesar de pretender falar em nome dos pobres e dos destituídos, a esquerda é cada vez mais o espaço das elites, repleta de jornalistas, professores e advogados. Paradoxalmente, por favorecerem a realização secular individual, estes profissionais acreditam, hoje em dia, nas soluções públicas para todo o tipo de problemas sociais. Não vêem perigo no aumento da autoridade do Estado e na burocracia intrusiva e perdulária. Isto é, afirmo, um desvio extraordinário da postura anti-autoridade e anti-governo da esquerda autêntica dos anos 60.Como é que a liberdade se tornou num domínio dos conservadores? Sempre pensei que a esquerda fosse um espaço de liberdade – mas devo estar a viver num passado nostálgico. Lembram-se da canção do Bob Dylan de 1964 “Chimes of Freedom”, interpretada pelos Byrds? E do Richie Havens a extasiar o auditório, em Woodstock, com “Freedom, Freedom”! E até da canção da Linda Ronstad de 1967 “A Different Drum”, com os Stone Ponys, a darem o mote para toda uma década: “Tudo o que digo é que não quero/ Que qualquer pessoa, lugar ou coisa/ Me tente submeter”.
Mas a esquerda moderna tornou-se servil com a autoridade e crédula com tudo que os líderes partidários prometem. Porquê? Será porque os novos profissionais só têm um verniz de educação institucional? O pensamento independente e a análise lógica dos argumentos já não são ensinados.
Camille Paglia, Salon
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