Eu hoje sinto-me voltado para as dicotomias. Provavelmente pela benfazeja influência do Prof. Cardoso Rosas – um portento insuperável nestes domínios -, talvez por elas ajudarem o meu espírito simples a compreender a complexidade da existência e da política, talvez por ambas as razões, não sei. O que sei é que estou virado para elas, e vou, por isso, socorrer-me da técnica para tentar compreender o comportamento da esquerda e da direita nestas eleições.
Não deixa de ser impressionante a semelhança histórica dos métodos usados pela esquerda para ganhar poder e eleições. Nestas eleições, ela apostou – como quase sempre o faz – no medo do eleitorado. A técnica foi – é – a de agitar inimigos terríveis e difusos, como o regresso ao passado, a parcialidade do Presidente da República, as semelhanças da líder da oposição com António de Oliveira Salazar. A mensagem é simples: o povo português corre o perigo, se não votar na esquerda, de estagnar, de voltar aos sinistros tempos do “fássismo”, e, pior do que isso, ficará nas mãos de conspiradores inescrupolosos e imorais que atentam contra o progresso e a felicidade do povo.
Nos tempos idos da Revolução Francesa, quando estes conceitos operacionais de esquerda e direita se estabeleceram, os Montanheses usaram a mesma técnica para chegarem ao poder. Agitaram o fantasma do Rei, o pobre Luís XVI que só queria paz e sossego, do perigo austríaco, das traições sucessivas dos aristocratas e dos emigrés, inventaram armários secretos cheios de “provas” das conspirações, primeiro. Mais tarde, debelados estes “perigos”, iniciaram as purgas internas para melhor concentrarem o poder, e acusaram de conspiração e traição os próprios republicanos menos radicais do que eles, atacando os Bernardinos e os Girondinos, chegando a pôr a cabeça de muitos deles – entre os quais o célebre Danton – no cadafalso. À cabeça (literalmente falando) deste processo, estava um homem que fazia da virtude e da incorruptível honestidade (a tal “moralidade” de que nos fala o Prof. Rosas) a sua imagem de marca política: Maximilien Robespierre. Este, que já muito antes dominava praticamente a Convenção, assumiu o poder absoluto em Julho de 1794. Durante um ano, até o deceparem em Agosto de 1795, governou pelo Terror e condenou à morte milhares de cidadãos franceses. A maioria condenada em julgamentos sumários, no célebre Tribunal Revolucionário (caricatamente criado pelo próprio Danton...), presididos por juízes corruptos e com jurados comprados. Tudo em nome da virtude e da honorabilidade da República, obviamente, e honrando os vaticínios proféticos de Voltaire, que anos antes escrevera: “Esmaguemos os fanáticos e os patifes (...). Não permitamos que os possuidores de inteligência sejam dominados pelos que a não têm”. E assim foi feito.
Em contrapartida, a direita manifestava também, já nessa altura, os tiques que hoje mantém. Receosa, temerária, com medo das acusações que a Montanha lhe movia, colaboracionista até estar em jogo o próprio pescoço, deixou-se salamizar (outra técnica clássica da esquerda) e levar ao cadafalso, até à sua quase extinção.
Quando agora ouço falar na superioridade intelectual e, consequentemente, na honestidade intrínseca da esquerda, versus a arrogância moral e aristocrática da direita, e da sua ambição conspirativa do passado, vêm-me à cabeça estas coisas delirantes e exageradas. Certamente que não fazem qualquer sentido, e que não será no próximo dia 28 de Setembro que introduziremos a guilhotina no nosso sistema penal. As nossas técnicas foram sempre mais sofisticadas.
Não deixa de ser impressionante a semelhança histórica dos métodos usados pela esquerda para ganhar poder e eleições. Nestas eleições, ela apostou – como quase sempre o faz – no medo do eleitorado. A técnica foi – é – a de agitar inimigos terríveis e difusos, como o regresso ao passado, a parcialidade do Presidente da República, as semelhanças da líder da oposição com António de Oliveira Salazar. A mensagem é simples: o povo português corre o perigo, se não votar na esquerda, de estagnar, de voltar aos sinistros tempos do “fássismo”, e, pior do que isso, ficará nas mãos de conspiradores inescrupolosos e imorais que atentam contra o progresso e a felicidade do povo.
Nos tempos idos da Revolução Francesa, quando estes conceitos operacionais de esquerda e direita se estabeleceram, os Montanheses usaram a mesma técnica para chegarem ao poder. Agitaram o fantasma do Rei, o pobre Luís XVI que só queria paz e sossego, do perigo austríaco, das traições sucessivas dos aristocratas e dos emigrés, inventaram armários secretos cheios de “provas” das conspirações, primeiro. Mais tarde, debelados estes “perigos”, iniciaram as purgas internas para melhor concentrarem o poder, e acusaram de conspiração e traição os próprios republicanos menos radicais do que eles, atacando os Bernardinos e os Girondinos, chegando a pôr a cabeça de muitos deles – entre os quais o célebre Danton – no cadafalso. À cabeça (literalmente falando) deste processo, estava um homem que fazia da virtude e da incorruptível honestidade (a tal “moralidade” de que nos fala o Prof. Rosas) a sua imagem de marca política: Maximilien Robespierre. Este, que já muito antes dominava praticamente a Convenção, assumiu o poder absoluto em Julho de 1794. Durante um ano, até o deceparem em Agosto de 1795, governou pelo Terror e condenou à morte milhares de cidadãos franceses. A maioria condenada em julgamentos sumários, no célebre Tribunal Revolucionário (caricatamente criado pelo próprio Danton...), presididos por juízes corruptos e com jurados comprados. Tudo em nome da virtude e da honorabilidade da República, obviamente, e honrando os vaticínios proféticos de Voltaire, que anos antes escrevera: “Esmaguemos os fanáticos e os patifes (...). Não permitamos que os possuidores de inteligência sejam dominados pelos que a não têm”. E assim foi feito.
Em contrapartida, a direita manifestava também, já nessa altura, os tiques que hoje mantém. Receosa, temerária, com medo das acusações que a Montanha lhe movia, colaboracionista até estar em jogo o próprio pescoço, deixou-se salamizar (outra técnica clássica da esquerda) e levar ao cadafalso, até à sua quase extinção.
Quando agora ouço falar na superioridade intelectual e, consequentemente, na honestidade intrínseca da esquerda, versus a arrogância moral e aristocrática da direita, e da sua ambição conspirativa do passado, vêm-me à cabeça estas coisas delirantes e exageradas. Certamente que não fazem qualquer sentido, e que não será no próximo dia 28 de Setembro que introduziremos a guilhotina no nosso sistema penal. As nossas técnicas foram sempre mais sofisticadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário