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Compreendo as tuas palavras, porque, de certa forma, eu também estou a gravitar. Veja bem, meu amigo: eu já relatei aqui mais de uma vez a trajetória - aliás, o turbilhão - que me levou ao protestantismo, à América e ao liberalismo anglo-americano. Já relatei também (dei o meu testemunho), da convicção, que eu tinha por inabalável, de que o mesmo processo de reforma que eu havia experimentado ao nível pessoal, nomeadamente ao longo do período em que residi e trabalhei nos EUA, poderia ser integralmente reproduzido, em escala maior, para toda a sociedade brasileira, reformando-a de alto a baixo, no proceder, nas relações inter-pessoais, na relação com Deus, na economia, na política.
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Evidentemente, não seria eu a reformar coisa alguma, pois não me arrogo em condições intelectuais e nem possuo capacidade de influência ou de liderança para mudar um país. Megalomania, felizmente, é um mal de que não padeço. Mas considerei que talvez estivesse na minha humilde esfera de possibilidades unir-me a outros liberais, a outros, vá lá!, 'reformados', e, num trabalho de militância, num trabalho de formiguinha, no varejo, talvez um dia levar o Brasil para uma outra esfera. Nisso eu acreditei ao longo de muito tempo...
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Mas então o país enveredou por um caminho que muitos de nós considerávamos fora do horizonte (ah, Fukuyama seu desgraçado!! Outro dia em conto essa parte), dando azo a que os piores instintos do povo brasileiro viessem a se manifestar, de maneira a deixar evidente - e aí já falo por mim, bem entendido - que, apesar de toda a militância, toda a pregação, o povo brasileiro, meu caro RB, continua sendo aquilo que sempre foi, e, em alguns aspectos, até pior -sendo que nesse pior começa a doer-me lá alguma junta dos ossos como a dizer-me que aquela pregação em que eu tanto acreditava tem grande parcela de culpa.
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Será que v. está me entendendo, meu amigo?Por isso eu também te digo que estou a gravitar nesse momento. Gravito porque tenho minhas idéias sendo revolvidas pela realidade, e gravito ainda mais porque começo a suspeitar que o liberalismo que eu amo talvez não seja possível de ser transplantado para um país como o Brasil, e aí eis o ponto, começo também a revisitar aquelas teorias culturalistas que eu um dia tanto desprezei. Certezas... Quão frágeis elas são, não é mesmo?
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Agora, veja a questão que agora me coloco a mim mesmo: será que o contínuo e avassalador fracasso que os liberais de matriz anglo-americana sempre tiveram no Brasil não se deve precisamente ao fato de que a transposição de idéias geradas em cultura diversa também não seja lá uma forma de engenharia social, essa prática odiosa que nós liberais sempre repugnamos? E exatamente por ser engenharia social é que não deita raiz em nosso solo?As leituras que tenho realizado ultimamente, revisitando algumas teorias culturalistas de autores brasileiros, têm me aproximado muito das idéias do Pedro. Não concordo com as soluções que o caro Pedro encontra para o formato de governação dos portugueses, mas devo dizer que começo a compreender melhor o seu enfoque culturalista. E quer saber: penso que ele está certo!!
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Um grande abraço.
LG 07.03.09 - 3:29 pm #
LG 07.03.09 - 3:29 pm #
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