Nos comentários ao meu último post, eu estava à espera que algum comentador mencionasse o Bispo do Porto (ao tempo do Estado Novo, D. António Ferreira Gomes) para ver confirmada a minha tese. Já está. Mas então a Igreja não era favorável ao regime saído do 25 de Abril? Claro que era, até tinha o Bispo do Porto, o Padre Max e mais uns quantos.
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E se o país virasse hoje comunista quem é que a Igreja invocaria para se ajustar rapidamente ao novo regime? Não é difícil imaginar.
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E nisto que reside a estratégia de sobrevivência da Igreja Católica para se adaptar a todos os regimes políticos. Debaixo de uma ortodoxia teológica rígida, a Igreja sempre favoreceu o máximo pluralismo política da sua hierarquia, do bispo ao pároco da freguesia, e foi esta cultura política que ela inculcou nos povos que estiveram sujeitos à sua influência exlusiva durante séculos. Este comportamento explica a extrema variedade de partidos políticos, da extrema esquerda à extrema-direita que é típica dos países católicos.
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Favorecendo e encorajando o pluralismo político o mais extenso possível da sua hierarquia, sempre que o regime político muda, a Igreja tem inevitavelmente alguns dos seus para apontar como exemplos de personalidades favoráveis ao novo regime. É em torno desta personalidades pivotais que ela então se ajusta ao novo regime e convive com ele, e lhe permite estar sempre ao lado do poder.
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Esta cultura foi passada às populações que estiveram sob a sua influência milenar. Assim, por exemplo, no 25 de Abril as famílias portuguesas partiram-se em múltiplas lealdades políticas. Se o pai era de extrema-direita, muito provavelmente um dos seus filhos seria de extrema-esquerda. Qualquer que fosse o lado de onde soprasse o vento, havia sempre pelo menos um membro da família que estava do lado de onde o vento soprava, e que servia de pivot para toda a família se ajustar ao novo partido no poder ou, pelo menos, para amenizar a sua imagem pública de hostilidade.
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Ainda hoje Portugal se caracteriza por ter um Partido Comunista com uma dimensão que já não existe em nenhum país da Europa Ocidental e praticamente todos os portugueses têm algum membro da família, ou um amigo, que é comunista. Não vá o comunismo aparecer por aí outra vez...
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