Quando as sondagens davam ainda ao PS confortável maioria absoluta nas próximas legislativas, eu apostei com dois companheiros deste blogue que o PS não a iria obter. Passadas algumas semanas, e as sondagens continuando a dar o mesmo resultado, eu até baixei a fasquia perante um dos companheiros de blogue: "Não só não vão ter maioria absoluta, como vão perder as eleições legislativas".
No dia das eleições europeias, a minha mulher, no meio da caminhada dos domingos à tarde, arrastou-me até à secção de voto. E eu lá fui atrás dela. Os homens têm alguma tendência para irem atrás das mulheres. Ela queria ir votar. Nem ela nem eu somos versados nestas coisas, e por isso nunca tivemos consensos na matéria. Nunca tínhamos votado em eleições europeias e, mesmo nas legislativas, a única vez que votámos foi nas primeiras - em 1975, éramos então dois jovens estudantes e namorados. Hoje somos avós.
Eu nem sequer tinha o meu cartão de eleitor. Mas ela tinha o dela, e rapidamente se descobriu na secção de voto que o meu número era o seguinte. Quando peguei no papel e no lápis, eu não tinha dúvida nenhuma onde iria colocar a cruz. No partido mais representativo do povo português - o PSD. Se não fôr o PSD a salvar a democracia em Portugal, mais nenhum partido o fará. Antes pelo contrário. Esta é uma convicção que eu tenho como profunda há vários anos.
Quando saímos do local, a minha mulher perguntou-me quem é que eu achava que ia ganhar. Respondi tranquilamente: "O PSD... à vontade". Não foi com surpresa quando às sete ou oito da noite, vi os resultados das primeiras sondagens que davam a vitória ao PSD. Tendo os meus companheiros de blogue já aceitado a derrota na aposta que valia para as legislativas, e tendo-os já perdoado - uma garrafa de Barca Velha a cada um - eu penso agora que o PS vai ter uma resultado catastrófico nas eleições legislativas - dificilmente chegará a 20%. E, se a caminhada se proporcionar nesse dia, eu talvez passe pela mesa de voto para dar uma ajuda.
Porquê todo este meu cepticismo acerca do apreço popular pelas políticas do PS nos últimos quatro anos? Porque o PS não fez outra coisa senão praticar políticas "protestantes" num país que continua a ser profundamente católico.
A reforma fiscal fez os portugueses pagarem todos os impostos que eram devidos, como se faz nos países protestantes do norte da Europa e da América do Norte - e até cometeu alguns abusos pelo caminho, obrigando a pagar a quem não devia. Mas esqueceu-se da outra parte que é praticada nos países protestantes. Aí os políticos e a administração pública não têm ordenados principescos, vários empregos, reformas múltiplas embora servindo sempre o mesmo patrão-Estado, nem sistemas privilegiados de segurança social e de saúde. Nem estão acima da lei. Pelo contrário, têm de dar o exemplo de serviço à causa pública.
A avaliação dos professores. Nos países protestantes os professores são de facto avaliados em moldes públicos muito semelhantes àqueles que foram legislados por este governo. Mas não num país católico. Aí os professores são avaliados pelas hierarquias através de um processo confidencial e discreto. Alunos e pais a avaliar professores num país católico, e os resultados a serem tornados públicos? Vai dar mau resultado. Como se está a ver.
Privilégios. Num país protestante ninguém tem privilégios, são todos tratados de forma igual. Num país católico é diferente. As chamadas autoridades naturais - a primeira foram os padres, seguindo-se os médicos, os juizes, os professores e os militares- têm privilégios. Estes privilégios elas são supostas retribuir à sociedade através de uma dedicação sem limites. Retirar as férias judiciais aos juizes, obrigar os professores a cumprirem horário de funcionário público e forçar os médicos a picar o ponto numa sociedade de cultura católica não só não vai produzir melhores juizes, professores ou médicos, como vai produzir piores, e revoltá-los a todos.
Aborto, casamento gay e divórcio expresso. Tudo isto agrada muito a uma clientela eleitoral jovem e a intelectuais modernistas. Mas são instituições que ofendem profundamente uma população de cultura católica.
O Partido Socialista francês, em cujo modelo foi construído o Partido Socialista português, não foi além de 17% nas últimas eleições europeias. O PS vai-lhe seguir o caminho. Esteja atento. É mais uma derrota do protestantismo neste país eminentemente católico. Possa eu acrescentar uma última previsão: o primeiro-ministro José Sócrates e a sua equipa vão sair muito mal da política. Infelizmente. E digo infelizmente porque a cultura portuguesa é horrível a tratar quem teve poder e o perdeu. (Veja a forma como a Igreja Católica nas Honduras rapidamente se colocou do lado dos vencedores e hostiliza o presidente deposto. É assim também com os portugueses, os mais velhos e genuinos católicos entre os católicos).
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