A importância da distinção entre a cultura católica e a cultura protestante, sobre a qual tenho vindo a elaborar, pode ser ilustrada pelo destino diverso que tiveram dois intelectuais que primeiro a fizeram notar: o português Antero de Quental, que a expôs na sua célebre Conferência do Casino sob o título "As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares" (1871), e o economista e sociólogo alemão Max Weber que a apresentou no seu livro "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" (1905).
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O Governo português da altura mandou fechar as Conferências do Casino logo após a conferência de Antero e, embora o escrito de Antero antecipasse em mais de trinta anos o de Weber, a tese ficou conhecida internacionalmente como pertencendo ao alemão, e teve uma tal repercussão internacional que Robert Nisbet chegou mesmo a considerar Max Weber como o intelectual mais influente na América durante o século XX.
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E Antero, o que foi feito dele? Acabou a dar um tiro na cabeça sentado num banco de jardim em Ponta Delgada. O episódio ilustra a receptividade às novas ideias nos mundos católico e protestante, mas ilustra também um outro ponto. Os portugueses acabaram a honrar Antero depois de morto, em estátuas e nas ruas que receberam o seu nome, um reflexo da tendência católica para adorar o Cristo morto, o da cruz, e da redenção dos pecados. Pelo contrário, os protestantes tendem a honrar mais os homens enquanto vivos, um reflexo da sua tendência para adorar o Cristo vivo, o da ressureição e da vida nova.
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Antero foi um intelectual finíssimo, de longe o maior da sua Geração de 70. Seria hoje conhecido em todas as academias do mundo, e o seu país honrado por virtude do seu nome, não tivesse nascido no país errado para a discussão das ideias.
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