Alegadamente, Alberto João Jardim prepara-se para restringir a liberdade de expressão na Madeira. Alberto João Jardim é o governante português que na minha opinião, mais se aproxima da tradição católica de governação (e, talvez por isso, a Madeira é a região mais progressiva do país), e a liberdade de expressão é uma instituição incompatível com a tradição católica. A prazo, a liberdade de expressão torna impossível a governação num país (ou região) de tradição católica.
A liberdade de expressão evoluiu da tradição protestante pelo ênfase que esta coloca no princípio da Sola Scriptura, o qual, na prática, remetia todo o crente para a leitura da Bíblia. Cristo, porém, fala frequentemente por parábolas que não se prestam a interpretação única e imediata. Daí a necessidade de os crentes se reunirem para discutirem o verdadeiro sentido das palavras de Cristo, cada um exprimindo livremente, e de boa-fé, o seu entendimento, na esperança de chegarem a um consenso acerca da mensagem cristã. Estudo e liberdade intelectual é a tecnologia para chegar à verdade de Deus na tradição protestante. É esta mesma tecnologia que está na base da ciência, outra tradição protestante.
Na tradição católica nada disto acontece. O clero é que é suposto estudar a Bíblia. E depois comunica a mensagem aos crentes, também chamados leigos (ignorantes), que a aceitam passivamente. Aqui a tecnologia para chegar à verdade é a autoridade, não o estudo e a liberdade de expressão.
O que faz então um povo católico quando, sob um regime democrático, lhe dizem que ele agora - não mais a autoridade - é que é suposto chegar à verdade, e tem à sua mão os meios necessários, estudo e liberdade de expressão? Este povo não tem o sentido da procura da verdade, não está habituado a estudar nem a exprimir-se livremente. Pelo contrário, o único sentido que ele tem nesta matéria é o de que é ignorante. Portanto, ele vai contestar todas as verdades que sejam proferidas pelos outros que são olhados como igualmente ignorantes, incluindo aqueles que estão agora no poder.
A liberdade de expressão evoluiu da tradição protestante pelo ênfase que esta coloca no princípio da Sola Scriptura, o qual, na prática, remetia todo o crente para a leitura da Bíblia. Cristo, porém, fala frequentemente por parábolas que não se prestam a interpretação única e imediata. Daí a necessidade de os crentes se reunirem para discutirem o verdadeiro sentido das palavras de Cristo, cada um exprimindo livremente, e de boa-fé, o seu entendimento, na esperança de chegarem a um consenso acerca da mensagem cristã. Estudo e liberdade intelectual é a tecnologia para chegar à verdade de Deus na tradição protestante. É esta mesma tecnologia que está na base da ciência, outra tradição protestante.
Na tradição católica nada disto acontece. O clero é que é suposto estudar a Bíblia. E depois comunica a mensagem aos crentes, também chamados leigos (ignorantes), que a aceitam passivamente. Aqui a tecnologia para chegar à verdade é a autoridade, não o estudo e a liberdade de expressão.
O que faz então um povo católico quando, sob um regime democrático, lhe dizem que ele agora - não mais a autoridade - é que é suposto chegar à verdade, e tem à sua mão os meios necessários, estudo e liberdade de expressão? Este povo não tem o sentido da procura da verdade, não está habituado a estudar nem a exprimir-se livremente. Pelo contrário, o único sentido que ele tem nesta matéria é o de que é ignorante. Portanto, ele vai contestar todas as verdades que sejam proferidas pelos outros que são olhados como igualmente ignorantes, incluindo aqueles que estão agora no poder.
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Deste processo não sai verdade. Sai fantasia, frequentemente insinuação e calúnia, leviandade e sobretudo muita mentira e ofuscação da verdade. Em última instância, a liberdade de expressão serve para cada um dizer aquilo que lhe vem à cabeça, sem ter de prestar contas a ninguém, normalmente seguindo os seus interesses, preconceitos e idiossincracias pessoais ou de grupo. Salazar, no início da sua governação, em que o reequilíbrio das contas públicas era prioritário, dizia (na entrevista a António Ferro) que, cansado de ver tantas leviandades na imprensa acerca do assunto, decidiu criar um gabinete no governo onde os jornalistas pudessem verificar a realidade das contas públicas e colocar todas as questões acerca delas. Em quatro anos, lamentava-se Salazar, o gabinete foi consultado apenas por três jornalistas.
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