07 julho 2009

abstracção



A relação directa e racional do protestante com Deus abriu a porta ao desencantamento do mundo e à ciência moderna. A relação íntima que o protestante mantinha com a Bíblia alicerçava com segurança a sua sabedoria de vida. Porém, com o surgimento de uma cultura de massas (do barroco à actualidade) e o acesso massivo à universidade (sobretudo a partir dos meados do séc. XX), a cultura protestante aproximou-se tanto do saber científico quanto o que se afastou da sabedoria de vida. Também aqui a cultura protestante operou uma abstracção profunda. O que ganhou em ciência perdeu em sabedoria. Esvaziou o mundo de Deus e insuflou-o de orgulho.
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Na segunda metade do século passado a cultura protestante enalteceu a inteligência racional, a capacidade de cálculo e o pensamento lógico a ponto de julgar que as emoções eram embaraços. Por isso, julgo que o grande ídolo da cultura protestante, a personagem tipo mais acabada da perfeição que queriam atingir, foi o Mr. Spock. O feito mais extraordinário de que foram capazes e de que mais se orgulham foi o de pôr um homem a caminhar na lua. Foi esta a geração que deu de barato as histórias que os seus avós liam na Bíblia. O mesmo já tinha acontecido uma geração antes na Alemanha que, com uma incrível capacidade de abstracção, mobilizou burocratas, gestores, médicos, enfermeiros, físicos, químicos e outros tantos cientistas para exterminar eficazmente milhões de humanos.
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Quando penso nesta capacidade de abstracção protestante fico contente por viver num país de cultura católica.
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Sinfonia do disparate Homepage 07.07.09 - 1:11 am #

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