28 junho 2009

nem para onde vai


Para que haja uma compreensão melhor do assunto, vejam este episódio:

JOÃO 3:1-21

"1 E HAVIA entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2 Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.
3 Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
11 Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.
12 Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu.
14 E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.

"Hadassah 06.26.09 - 10:22 pm #
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Poucas passagens das Escrituras ilustram melhor algumas das diferenças principais entre a cultura católica e a cultura protestante do que esta, a primeira cultura representada por Nicodemos, a segunda por Cristo. (Não insistirei mais no ponto de que a cultura protestante é consideravelmente mais cristã do que a católica).
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Nicodemos, tal como a cultura católica, coloca o ênfase no mundo tal como ele existia ao tempo de Cristo, que era um mundo de pecado, doença, fome, escravatura, injustiça, discriminação e morte. Cristo, tal como a cultura protestante, coloca o ênfase num mundo diferente e novo ("7 ... Necessário vos é nascer de novo..."), que é o mundo que virá depois da sua própria morte, o mundo da salvação: "17. Porque Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele".
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Para além da sua incredulidade, o aspecto mais saliente da reacção de Nicodemos, é a sua completa incompreensão, a sua radical falta de capacidade para conceber o mundo de forma diferente daquilo que ele é, em tudo se assemelhando à falta de capacidade da cultura católica para a abstracção, a que me tenho referido frequentemente. Cristo não deixa de lhe notar: "12. Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crerereis, se vos falar das celestiais?". O materialismo e a falta de espiritualidade de Nicodemos, tal como na cultura católica, contrasta com a espiritualidade de Cristo, que é inerente à cultura protestante, a capacidade para acreditar mesmo naquilo que não se vê - e sobretudo nisso. A potência do espírito humano é aqui posta em relevo.
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Nicodemos tem o espírito preso a este mundo, a mesma concentração no aqui e no agora que é típica da cultura católica, e a que já me referi noutro lugar. E qual é a faceta principal desse mundo alternativo que lhe é proposto por Cristo? A libertação do espírito humano, deixar o espírito humano voar com o vento, fazendo de cada homem uma experiência única de Deus: "8. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, e não sabes de onde vem nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito".
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Eu não estarei certamente a exagerar se disser que o pior vício da cultura católica, e que a história documenta abundantemente, é a sua radical intolerância espiritual, a aversão radical à ideia de que o espírito de um homem possa voar com o vento, não vá ele voar em direcção diferente do rebanho. É este também, ainda hoje, o principal vício da cultura portuguesa, essa muito anti-cristã, intolerável e embrutecedora colectivização do espírito humano.

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