22 junho 2009

não chega

O mutismo, o silêncio e a circunspecção que têm marcado a liderança de Manuela Ferreira Leite têm um sentido histórico, estratégico e táctico. Historicamente, a direita portuguesa aprecia os líderes patriarcais, austeros, quando não autoritários. Salazar e Cavaco são os dois ex-libris que a direita indígena respeitou no século XX, em boa medida por serem assim. Estrategicamente, convinha ao PSD assinalar uma diferença em relação aos seus tempos mais recentes do chamado “populismo” de Santana e Meneses, reencontrando a gravitas perdida. Tacticamente, é sabido que quanto menos se fala em política, menos asneiras se dizem e menos compromissos se assumem, aumentando o grau de liberdade para decidir quando se chega ao poder.

Este caminho não serve, todavia, ao espírito liberal, para quem a exigência perante o poder tem de ser permanente e absoluta, sobretudo para com aquele poder que é exercido em nome de ideologias com as quais se possa confundir.
Não me parece, assim, que baste à Dr.ª Ferreira Leite permanecer na pose de mulher circunspecta e de estadista gravitosa para merecer um voto de adesão, isto é, um voto que não seja somente de rejeição ao governo do Partido Socialista. Ela – ela pessoalmente na qualidade de putativa futura primeira-ministra – deve esclarecer que rumo imprimirá aos sectores mais significativos da governação, quais os princípios da actuação do seu futuro governo, e o que considera dever ser o estado português governado pelo Partido Social Democrata nos aspectos essenciais da sua relação com os cidadãos. Isto constará certamente do seu programa de governo, a apresentar brevemente ao país. Há, pois, que aguardar.

Mas deve o PSD fazer mais, se quiser reforçar a credibilidade da sua alternativa de governo ao PS: deverá apresentar, antes de eleições, a estrutura fundamental do seu futuro governo, a equipa com a qual Manuela Ferreira Leite pretende cumprir o programa anunciado, apresentando os ministros das pastas essenciais (Finanças, Justiça, Administração Interna, Saúde, Segurança Social, Educação e Ensino Superior, pelo menos), assumindo estes o compromisso solene de executarem as políticas prometidas no programa eleitoral.

Menos do que isto será, a meu ver, passar-lhe um cheque em branco, apenas justificado por uma animosidade feroz ao “animal feroz”, agora convertido em “português suave”, Votas contra Sócrates pode ser interessante. Mesmo útil, até. Mas não garante que lhe sobrevenha um governo que o faça esquecer.

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