28 junho 2009

desenrascanço


"Infelizmente para a eficiência económica, a nossa cultura convive muito bem com um largo espaço de arbitrariedade decisória, que tende a interpretar, erradamente, que isso é uma fonte de flexibilidade no funcionamento da economia e da sociedade. Daí os louvores que se concedem ao nosso espírito de "desenrascanço", sem nos darmos sequer ao trabalho de reflectir porque é que as sociedades mais desenvolvidas não dispõem de, nem cultivam, esse espírito.

No fundo, a tão valorizada flexibilidade mais não é do que a combinação de uma grande habilidade para "dar a volta" às regras, com a complacência manifestada para com a sua violação. Esquecemo-nos, contudo, que, pela porta que a "flexibilidade" (i.e. o "jeitinho") abre para facilitar uma decisão necessária, vão acabar por passar muitas mais decisões perniciosas, pelo que o resultado líquido, para a economia e para a sociedade, é claramente negativo. É por isso e para evitar todas as distorções que isto provoca que os países mais desenvolvidos preferem funcionar com regras claras e rígidas, mas sem excepções. Porque sabem que a gestão das excepções é uma inesgotável fonte de arbitrariedades e ineficiências."

Bento, Vítor (2009). Perceber a crise para encontrar o caminho. Lisboa: Bnomics.

Sem comentários: