A blogosfera permitiu trazer à superfície características culturais dos povos que seriam muito difíceis de ilustrar de outro modo. Consultando as caixas de comentários dos maiores blogues, incluindo as versões on-line de jornais, qual o tom dominante nos comentários? O rebaixamento moral. O comentador fixa-se numa pessoa e atribui-lhe pecados, senão mesmo crimes, e depois aplica-lhe a pena - agressão verbal. Na minha estimativa, mesmo grosseira, cerca de 95% dos comentários em blogues e jornais online em Portugal envolvem uma forma ou outra de rebaixamento moral.
O rebaixamento moral, fazendo parecer mal o outro, é uma característica da cultura portuguesa e católica, e uma característica muito pouco cristã porque, tal como referi aqui, uma das primeiras características socialmente visíveis do Cristianismo foi o respeito com que os cristãos se tratavam uns aos outros. Nos países protestantes, o rebaixamento moral, que é uma atitude mental permanente das populações nascidas em países católicos, praticamente não existe, porque é considerado ofensivo.
Esta perversão católica do Cristianismo resultou, provavelmente como um efeito não pretendido, das funções que a Igreja Católica assumiu no seu seio da religião cristã, , a saber, a de autoridade docente do Cristianismo e a de agente sacramental. Como autoridade docente possuiu o monopólio da educação até há muito pouco tempo e praticamente durante vinte séculos foi ela que moldou o espírito das pessoas em exclusivo. Como agente sacramental, ela possui o monopólio dos actos ou sacramentos que aproximam os fieis de Deus e os reconciliam com Ele. O sacramento da penitência, através do qual a Igreja redime os pecados dos fieis e os reaproxima de Deus, assume aqui uma importância capital. Foi, de resto, este sacramento que gerou a revolta popular encabeçada por Lutero e que conduziu à Reforma religiosa e à divisão da Cristandade Ocidental no século XVI, através da célebre questão das insulgências.
A perspectiva económica parece aqui particularmente eficaz para lançar luz sobre a queatão. Existe uma procura para o perdão dos pecados por parte dos fieis, e uma oferta que é monopólio da Igreja. Para maximizar a procura e maximizar os benefícios (em dinheiro ou em espécie) que a Igreja deriva desta actividade, convém maximizar o número de pecadores na sociedade. Como a Igreja possuia ao mesmo tempo o monopólio da formação dos espíritos (educação) na sociedade, o caminho estava encontrado: criar no espírito dos homens a ideia que eles são pecadores irreformáveis. O trabalho feito ao longo de muitos séculos foi de tal modo eficaz que a Igreja já não necessita hoje de o fazer. São as próprias pessoas criadas sob esta cultura, e mesmo quando se dizem agnósticas ou ateias, que o fazem espontâneamente, passando o tempo a atribuir-se pecados umas às outras. A atitude permanente do rebaixamento moral passou a estar-lhes na massa do sangue.
O rebaixamento moral, fazendo parecer mal o outro, é uma característica da cultura portuguesa e católica, e uma característica muito pouco cristã porque, tal como referi aqui, uma das primeiras características socialmente visíveis do Cristianismo foi o respeito com que os cristãos se tratavam uns aos outros. Nos países protestantes, o rebaixamento moral, que é uma atitude mental permanente das populações nascidas em países católicos, praticamente não existe, porque é considerado ofensivo.
Esta perversão católica do Cristianismo resultou, provavelmente como um efeito não pretendido, das funções que a Igreja Católica assumiu no seu seio da religião cristã, , a saber, a de autoridade docente do Cristianismo e a de agente sacramental. Como autoridade docente possuiu o monopólio da educação até há muito pouco tempo e praticamente durante vinte séculos foi ela que moldou o espírito das pessoas em exclusivo. Como agente sacramental, ela possui o monopólio dos actos ou sacramentos que aproximam os fieis de Deus e os reconciliam com Ele. O sacramento da penitência, através do qual a Igreja redime os pecados dos fieis e os reaproxima de Deus, assume aqui uma importância capital. Foi, de resto, este sacramento que gerou a revolta popular encabeçada por Lutero e que conduziu à Reforma religiosa e à divisão da Cristandade Ocidental no século XVI, através da célebre questão das insulgências.
A perspectiva económica parece aqui particularmente eficaz para lançar luz sobre a queatão. Existe uma procura para o perdão dos pecados por parte dos fieis, e uma oferta que é monopólio da Igreja. Para maximizar a procura e maximizar os benefícios (em dinheiro ou em espécie) que a Igreja deriva desta actividade, convém maximizar o número de pecadores na sociedade. Como a Igreja possuia ao mesmo tempo o monopólio da formação dos espíritos (educação) na sociedade, o caminho estava encontrado: criar no espírito dos homens a ideia que eles são pecadores irreformáveis. O trabalho feito ao longo de muitos séculos foi de tal modo eficaz que a Igreja já não necessita hoje de o fazer. São as próprias pessoas criadas sob esta cultura, e mesmo quando se dizem agnósticas ou ateias, que o fazem espontâneamente, passando o tempo a atribuir-se pecados umas às outras. A atitude permanente do rebaixamento moral passou a estar-lhes na massa do sangue.
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PS.: Até o Michael Jackson, que eu procurei lembrar aqui pelo lado positivo da sua obra, é rebaixado na caixa de comentários pela sua alegada (embora nunca provada) pedofilia (ver também aqui). O português, qual padre católico sem vestes, julga moralmente para depois decidir se perdoa ou não (o sacramento da penitência). Na tradição protestante esse julgamento não pertence aos homens. Pertence a Deus, e o Michael Jackson já estará nesta altura a responder perante Ele. No fundo, existe em cada português um irreformável padreca.
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