1. Há uns tempos, Cândida Almeida explicava, na televisão, que não existiam suspeitos no caso Freeport. Isto aconteceu num momento em que os dados vindos a público lançavam suspeitas sobre 4 ou 5 pessoas, incluindo o primeiro-ministro. O sistema judicial só reconheceu a existência de suspeitos quando dois dos envolvido foram formalmente constituídos arguidos. E, mesmo assim, haverá quem defenda que um arguido não é bem um suspeito. O estatuto de arguido, dirão, é um direito de qualquer cidadão, porque lhe facilita o esclarecimento de dúvidas.
2. A investigação policial clássica processa-se através da eliminação sucessiva de suspeitos. A polícia parte de uma lista de suspeitos e vai eliminando aqueles que não poderiam ter cometido o crime. A investigação criminal em Portugal parece basear-se na recolha cega de factos, recolha essa que, esperam os seus mentores, acabará por ditar a verdade.
3. As autoridades sanitárias de todo o mundo têm vindo a comunicar casos relacionados com a gripe suína dividindo-os em 3 categorias: casos suspeitos, casos confirmados e casos negativos. Foram classificados como suspeitos todos o casos de pessoas com sintomas de gripe e ligações ao México. Foram classificados como confirmados todos os casos suspeitos com análise laboratorial positiva. E foram classificados como negativos todos os casos negativos todos aqueles em que o laboratório não confirmou a suspeita. Em Portugal as coisas passaram-se de forma diferente. Sabe-se que vários casos suspeitos foram testados em laboratório, mas esses nunca foram reconhecidos como suspeitos. As autoridades sanitárias só reconheceram o primeiro caso suspeito após confirmação em laboratório. Esse caso ainda não passou a confirmado porque as autoridades estão à espera de uma segunda confirmação por um laboratório estrangeiro.
4. Enquanto no resto do mundo o conceito de suspeito é útil no combate à gripe suína, porque permite que se estabeleça um nível intermédio de alerta, em Portugal ele é totalmente inútil porque em nada se distingue de uma confirmação. Esta diferença de critério cria a ilusão de que Portugal não foi tão afectado como outros países pela gripe suína.
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