A última edição da revista "Única" (do Expresso) publicou esta semana uma reportagem inqualificável. Uma peça indecente que, confesso, não entendo como poderá ter passado nos critérios editoriais daquele que é um dos jornais de referência do nosso país. Refiro-me à reportagem "Os carteiristas do 28", assinada por Hugo Franco, em que o jornalista descreve as tácticas daqueles que se dedicam a furtar carteiras aos transeuntes mais distraídos.
É que este jornalista foi ao ponto de fotografar um pobre turista francês a ser roubado pelos criminosos retratados na peça e nada fez. Pior, de certo modo, decidiu promover os criminosos e ridicularizar a vítima através de uma sequência de 6 fotografias, onde se vêem os três "artistas" do gamanço em acção junto do pobre homem. Infelizmente, a paródia não acabou ali. Na página seguinte, uma sétima fotografia onde, desta feita, figura o tal turista a queixar-se à polícia de que tinha sido roubado em 600 euros. Será que é isto que devemos esperar de uma revista, e de um jornal, de referência? Onde está a ética jornalística? E o pudor?
Enfim, eu não posso acusar o jornalista de ter sugerido aos carteiristas que realizassem o furto a fim de tirar umas fotografias porreiras, mas a dúvida permanece. Simplesmente, entendo que a exposição visual de toda a trama é uma manifestação de enorme desrespeito em relação a todos aqueles que alguma vez foram vítimas deste tipo de crime, em particular daquele senhor que, em face do detalhe da reportagem, teria todo o direito em pôr o Expresso em tribunal e ser ressarcido pelos 600 euros perdidos e pela figura de tonto que a revista passou de si.
Contudo, devo reconhecer que a dita reportagem teve um mérito: provar que, em Portugal, o crime compensa e, como o povo é sereno, até acaba por ser incentivado. Felizmente, nem todos os meios justificam os fins. E aquela não é uma peça de reportagem de que o Expresso se possa orgulhar. Muito pelo contrário.
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