06 maio 2009

é portuguesa


O economista inglês também me disse que em Portugal e Espanha se trabalha muito menos que em Inglaterra e, por isso, na opinião dele, é que nós tínhamos uma esperança de vida mais elevada que os ingleses. É verdade, mas não apenas porque se trabalha menos: Espanha 80.9 anos; Portugal: 78.1; Inglaterra: 77.2. Na realidade, o país com a esperança de vida mais elevada do mundo é um enclave na Península Ibérica - Andorra (83.5 anos).

Queixou-se da burocracia em Espanha, e eu expliquei-lhe que aqui era ainda pior porque era mais lenta. A burocracia era uma fonte de injustiça, segundo ele, porque quem tivesse "the right connections" conseguia as coisas rapidamente. Havia menos transparência em Espanha do que em Inglaterra, concluiu. Disse-me ainda que os espanhóis, quando tinham um problema, em lugar de o resolver prontamente, passavam o tempo em círculo à volta dele. Concordei que essa falta de objectividade e aversão a tomar decisões também existia em Portugal, talvez ainda fosse pior.

Expliquei-lhe que a superioridade da cultura inglesa (protestante) face à cultura ibérica (católica) se situava precisamente no domínio público, e ele já tinha dado exemplos suficientes, ao qual eu juntei o meu preferido - a qualidade da sua vida intelectual, as suas bibliotecas, os seus livros, o valor que é atribuído às ideias, a decência no debate. "Já viu dois portugueses ou dois espanhóis a dicutirem algum assunto?" perguntei. E eu próprio respondi: "Nenhum deles se preparou, cada um diz aquilo que lhes vem à cabeça, permanece teimosamente na sua, e o mais provável é que acabem zangados e a chamar nomes um ao outro".

Voltei à questão da esperança de vida e expliquei então que a má qualidade da nossa vida pública face à inglesa era compensada por uma melhor qualidade de vida na esfera privada. Ele já tinha gabado várias vezes a comida ao longo do jantar, e especialmente o vinho (Douro). Eu aproveitei para lhe perguntar: "Então, da próxima vez que eu vá a Londres, pode-me recomendar um restaurante onde eu possa comer comida genuinamente inglesa, e beber um vinho inglês?". Ele pensou uns segundos e respondeu "Bem ... nós não temos uma comida inglesa. Utilizamos a dos outros: indianos, italianos...". Aproveitei para lhe dizer que a qualidade da alimentação contribuia também para o diferencial da esperança de vida. E o clima, evidentemente, que não tinha comparação com o inglês. Ele concordou prontamente.

Falei-lhe depois da família ibérica, e dos pequenos grupos como o dos amigos, o grupo recreativo, a paróquia, etc., que eram instituições muito mais fortes do que em Inglaterra, e preenchendo funções sociais muito mais vastas, e que em Inglaterra eram preenchidas pelo Estado. Ocorreu-me ao espírito perguntar-lhe sobre beleza feminina, se ele achava melhor na Península Ibérica ou em Inglaterra. Refreei-me a tempo porque a resposta estava sentada ao lado - a namorada dele é portuguesa. "Aí é que está o grande segredo da esperança de vida. Elas mimam-nos. Too much.", concluí.

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