A cultura protestante que neste post eu identificarei com a cultura democrática-liberal, enfatizando a primazia da justiça sobre a verdade, coloca ênfase nos processos mais do que nos resultados. Não é tão importante para esta cultura que o resultado final seja a verdade, mas sobretudo que o resultado a que se chegar seja obtido de forma justa. Daí o seu ênfase em instituições, como a democracia e o mercado livre, que são instituições de justiça.
Ninguém pretende que um certo homem (v.g., Barack Obama) que foi eleito democraticamente para governar um país seja o homem mais habilitado, e o melhor de todos os homens, para governar esse país. Apenas se pretende que ele foi escolhido de forma justa através de um processo em que todos tiveram a mesma oportunidade de participar e em que o peso da opinião de cada um foi igual para todos. Da mesma forma que ninguém pretende - e eu aqui estou certamente a cometer uma heresia em relação a certas escolas do pensamento económico - que o preço do mercado represente a verdade acerca do valor das coisas. Apenas se pretende que ao preço do mercado se chegou de uma forma justa que foi livremente aceite por comprador e vendedor.
Por isso, a democracia-liberal vive frequentemente sob falsidades políticas, económicas e de outra natureza. A crise económica actual não é mais do que a realização de que os preços de numerosos bens e serviços produzidos pelo mercado não tinham verdade nenhuma, e que o valor desses bens e serviços estava muito abaixo do seu preço do mercado. Porém, desde que os processos sociais permaneçam justos, a democracia-liberal possui uma grande capacidade para se ajustar ou reformar, substituindo este governante por aquele, ou deixando variar os preços das coisas até que eles se ajustem à verdade do seu valor.
São as regras do jogo social que são decisivas na democracia-liberal, e não própriamente os resultados do jogo. Esses são aqueles que os talentos de cada um, e a sorte ou o azar, determinarem. Aquilo que a democracia liberal não pode consentir são batoteiros. Porém, batoteiros é aquilo que ela vai produzir quando praticada por uma população de cultura católica.
Nesta cultura, a verdade toma precedente sobre todos os valores, incluindo a justiça. Para chegar à verdade vale tudo, incluindo violar a justiça. É sintomático que a própria cúria romana sempre tenha possuido um departamento da verdade - a Inquisição, hoje chamada Congregação para a Doutrina da Fé - mas nunca tenha possuido um departamento de justiça. A justiça é secundária na cultura católia e por isso as populações desta cultura não possuem sentido nenhum de justiça.
O regime político próprio de um país de cultura católica é um regime autoritário onde uma elite de pessoas, possuindo sabedoria e capacidade de julgamento, escolhe o melhor homem para governar o país, e depois o impõe a todos os outros. E o seu regime económico próprio é o sistema corporativo onde a autoridade supervisiona os preços das coisas e se assegura que eles não diferem da verdade, tal como revelada pelo custo de produção incluindo um lucro normal. Por isso, os países católicos põem ênfase na autoridade que é uma instituição da verdade.
Quando os países católicos adoptam a democracia, que é uma instituição de justiça, eles, que não conhecem instituições de justiça, porque não dão importância à justiça, transformam-na rapidamente numa instituição de verdade, que é o único tipo de instituição que eles conhecem. Quem ganha as eleições é o melhor e como não falta nesses países quem se considere ser o melhor e possuir a verdade da governação, não falta também quem se sinta autorizado a violar as regras do jogo para chegar à verdade, a qual depois é imposta a todos os outros sem remissão. Quando surge uma crise económica as pessoas nestes países ficam a bramar contra o sistema de mercado por ele não lhes dar a verdade acerca do valor das coisas, sem nunca perceberem que o mercado não é uma instituição de verdade, mas uma instituição de justiça - e as instituições de justiça destinam-se a produzir justiça e não, necessariamente, a produzir verdade.
Ninguém pretende que um certo homem (v.g., Barack Obama) que foi eleito democraticamente para governar um país seja o homem mais habilitado, e o melhor de todos os homens, para governar esse país. Apenas se pretende que ele foi escolhido de forma justa através de um processo em que todos tiveram a mesma oportunidade de participar e em que o peso da opinião de cada um foi igual para todos. Da mesma forma que ninguém pretende - e eu aqui estou certamente a cometer uma heresia em relação a certas escolas do pensamento económico - que o preço do mercado represente a verdade acerca do valor das coisas. Apenas se pretende que ao preço do mercado se chegou de uma forma justa que foi livremente aceite por comprador e vendedor.
Por isso, a democracia-liberal vive frequentemente sob falsidades políticas, económicas e de outra natureza. A crise económica actual não é mais do que a realização de que os preços de numerosos bens e serviços produzidos pelo mercado não tinham verdade nenhuma, e que o valor desses bens e serviços estava muito abaixo do seu preço do mercado. Porém, desde que os processos sociais permaneçam justos, a democracia-liberal possui uma grande capacidade para se ajustar ou reformar, substituindo este governante por aquele, ou deixando variar os preços das coisas até que eles se ajustem à verdade do seu valor.
São as regras do jogo social que são decisivas na democracia-liberal, e não própriamente os resultados do jogo. Esses são aqueles que os talentos de cada um, e a sorte ou o azar, determinarem. Aquilo que a democracia liberal não pode consentir são batoteiros. Porém, batoteiros é aquilo que ela vai produzir quando praticada por uma população de cultura católica.
Nesta cultura, a verdade toma precedente sobre todos os valores, incluindo a justiça. Para chegar à verdade vale tudo, incluindo violar a justiça. É sintomático que a própria cúria romana sempre tenha possuido um departamento da verdade - a Inquisição, hoje chamada Congregação para a Doutrina da Fé - mas nunca tenha possuido um departamento de justiça. A justiça é secundária na cultura católia e por isso as populações desta cultura não possuem sentido nenhum de justiça.
O regime político próprio de um país de cultura católica é um regime autoritário onde uma elite de pessoas, possuindo sabedoria e capacidade de julgamento, escolhe o melhor homem para governar o país, e depois o impõe a todos os outros. E o seu regime económico próprio é o sistema corporativo onde a autoridade supervisiona os preços das coisas e se assegura que eles não diferem da verdade, tal como revelada pelo custo de produção incluindo um lucro normal. Por isso, os países católicos põem ênfase na autoridade que é uma instituição da verdade.
Quando os países católicos adoptam a democracia, que é uma instituição de justiça, eles, que não conhecem instituições de justiça, porque não dão importância à justiça, transformam-na rapidamente numa instituição de verdade, que é o único tipo de instituição que eles conhecem. Quem ganha as eleições é o melhor e como não falta nesses países quem se considere ser o melhor e possuir a verdade da governação, não falta também quem se sinta autorizado a violar as regras do jogo para chegar à verdade, a qual depois é imposta a todos os outros sem remissão. Quando surge uma crise económica as pessoas nestes países ficam a bramar contra o sistema de mercado por ele não lhes dar a verdade acerca do valor das coisas, sem nunca perceberem que o mercado não é uma instituição de verdade, mas uma instituição de justiça - e as instituições de justiça destinam-se a produzir justiça e não, necessariamente, a produzir verdade.
Em termos do diagrama acima, a cultura católica vive predominantemente nos quadrantes Y e Z que são os quadrantes da verdade, enquanto a cultura protestante vive nos quadrantes Z e W, que são os quadrantes da justiça. Ambas as culturas possuem o potencial para viverem no melhor de todos os mundos possíveis (quadrante Z), a cultura católica quando não se afastar da justiça, que é a sua maior dificuldade, e a cultura protestante quando não se afastar da verdade, que constitui o seu calcanhar de Aquiles.
.
Os países protestantes estão neste momento a atravessar uma crise de verdade, sobretudo económica (quadrante W), mas não uma crise de justiça. Os países católicos, como Portugal, tendo importado o regime da democracia liberal, estão a atravessar uma crise de verdade económica semelhante à dos países protestantes, mas também uma crise de justiça (quadrante X), que é uma crise derivada da batotice a que fiz referência acima. E este é o pior dos dois mundos.
Sem comentários:
Enviar um comentário