Pedro Arroja tem vindo a caracterizar os portugueses com base nas suas características culturais e religiosas, dando grande relevância à influência do catolicismo.
Vou sugerir uma alternativa: as características dos portugueses resultam de séculos de adaptação à vida numa pequena aldeia.
Até ao início do século XX a vida numa aldeia portuguesa teria as seguintes características:
1. A aldeia não tinha muito mais de 150 habitantes. Toda a gente se conhece.
2. Pratica-se a exogamia masculina [ainda não consegui confirmar esta informação]. As mulheres tenderiam a viver toda a vida com a família. Os homens viviam fora da sua aldeia natal entre estranhos. Exogamia masculina implica que as mulheres tinham redes sociais mais fortes que os homens e tinham mais poder, sobretudo em assuntos familiares.
3. A população é analfabeta. A pessoa mais culta da aldeia é o padre, provavelmente um semi-analfabeto.
4. A aldeia vive da agricultura. Praticamente ninguém tem trabalho especializado.
5. Mortalidade infantil é de 250 por 1000 nascimentos.
6. Só uma pequena percentagem dos bens é que são obtidos por troca. Nenhum bem essencial é obtido por troca.
7. Existem barreiras ao comércio: distância, meios de comunicação primitivos, falta de meios de conservação de muitos alimentos.
8. Grande parte da produção é constituída por bens perecíveis. Bens perecíveis não podem ser nem acumulados nem trocados. O que fazer com eles? Partilhar, fazer uma festa. O status de alguém depende da quantidade de bens perecíveis que partilha.
9. As mulheres passam grande parte do tempo de vida fértil grávidas.
10. Não existem desigualdades.
11. A população está em equilíbrio malthusiano: a população é exactamente aquela que pode ser suportada pela terra e técnicas agrícolas disponíveis. Isto implica que qualquer perturbação no sistema económico pode levar à fome e à morte.
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