Num post anterior, deixei em aberto uma questão à qual gostaria de voltar. Trata-se de saber porque é que depois da divisão do cristianismo operada pela Reforma religiosa do séclo XVI, foram os países do sul da Europa a ficar predominantemente com o catolicismo (Portugal, Espanha, Itália, mais tarde propagado aos seus descentes na América do Sul) e os do norte a ficar predominantemente com o protestantismo (Inglaterra, Holanda, Alemanha, países nórdicos, etc., mais tarde propagado aos seus descendentes na América do Norte). Na altura, examinei um factor de natureza histórica, e deixei a porta aberta a outros, por exemplo, de natureza biológica.
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Gostaria neste post de examinar o factor climático. Os países católicos são países de clima temperado ou mesmo quente enquanto os países protestantes são de clima frio. Mesmo em África, um continente de clima quente, a mesma coincidência é observável, tendo o catolicismo maior penetração no continente do que as correntes do protestantismo todas juntas. A minha questão é pois a seguinte:
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Existe uma relação de causalidade entre o clima e a propensão de uma população para adoptar uma ou outra das correntes do cristianismo - o catolicismo e o protestantismo?.
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A minha resposta é afirmativa e é esta tese que pretendo agora argumentar. O clima mais favorável ao ser humano é um clima moderadamente quente e húmido, que é o clima do ventre da sua mãe. Este é também o clima em que o custo de oportunidade do trabalho - entendido no sentido de esforço humano orientado e produtivo - é mais elevado. Nos países de clima moderado ou quente as pessoas podem gozar, praticamente durante os doze meses do ano, os benefícios da vida ao ar livre. Pelo contrário, nos países de clima frio, durante cerca de seis meses no ano, as pessoas quase não podem saír de casa, não apenas por causa da temperatura, mas porque faz noite todo o dia. Nos primeiros países, o custo de uma dia de trabalho fechado numa fábrica ou num escritório - medido por aquilo que, alternativamente, se podia fazer lá fora, na praia, no campo, na esplanada com os amigos - é muito mais elevado do que nos segundos.
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As religiões são os únicos sistemas de pensamento que oferecem generalizadamente às pessoas um plano racional e coerente de vida, e essa é a razão porque não existe um país ou civilização que não esteja assente sobre uma religião. No Ocidente coube ao cristianismo desempenhar essa função. Porém, para se conhecer uma religião é preciso estudar as suas escrituras e meditar sobre elas, interpretando as palavras do seu Deus, dos seus profetas e santos, e nesta matéria o catolicismo oferece à população uma proposta muito mais atraente que o protestantismo.
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Enquanto o protestantismo exige dos seus crentes que leiam e estudem as Escrituras, meditem sobre elas e as debatam, a fim de chegarem à palavra de Deus, envolvendo um trabalho árduo e consumidor ao longo de muitos anos, o catolicismo oferece às pessoas uma classe de profissionais - o clero - que se encarrega de fazer tudo isso por elas, transmitindo-lhes depois os resultados dos seus estudos e conclusões. Não surpreende, assim, que o catolicismo se torne a doutrina preferida das populações nos países de bom clima, onde o custo de oportunidade de trabalhar é mais elevado.
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