Quando dois portugueses se encontram para debater em público, cada um deles já vai armado com a sua respectiva versão da verdade, A e B. Os portugueses cimentam as suas verdades no grupo, e por oposição às verdades de outros grupos, e é portanto no debate sectário que eles adquirem certezas acerca das suas ideias.
Nos países de tradição protestante é diferente. Quando dois ingleses se encontram para debater em público, as posições que eles levam para o debate, X e Y, não são verdades, mas meras propostas de verdade, simples hipóteses ou teses sobre a verdade. De facto, se alguma das partes julgasse possuir a verdade, o debate não serviria para nada.
É precisamente essa a razão que torna os debates públicos em Portugal totalmente desinteressantes. Cada um dos intervenientes já leva a verdade para o debate, e só vai ao debate cimentar a sua versão da verdade. Como a verdade não pode ser simultaneamente A e B, segue-se que, pelo menos, uma das verdades é falsa. Na realidade, são as duas falsas porque se a outra fosse a verdade, não se apresentaria a debate.
Nos países de tradição protestante é diferente. Quando dois ingleses se encontram para debater em público, as posições que eles levam para o debate, X e Y, não são verdades, mas meras propostas de verdade, simples hipóteses ou teses sobre a verdade. De facto, se alguma das partes julgasse possuir a verdade, o debate não serviria para nada.
É precisamente essa a razão que torna os debates públicos em Portugal totalmente desinteressantes. Cada um dos intervenientes já leva a verdade para o debate, e só vai ao debate cimentar a sua versão da verdade. Como a verdade não pode ser simultaneamente A e B, segue-se que, pelo menos, uma das verdades é falsa. Na realidade, são as duas falsas porque se a outra fosse a verdade, não se apresentaria a debate.
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A discussão começa tipicamente com uma das partes a pedir à outra para definir o que é a verdade, que é a forma de cada um dos intervenientes pedir ao inimigo para lhe definir o alvo a abater. Um dos intervenientes, por exemplo A, diz que a verdade é tal, tal e tal. O outro, B, nega que isso seja a verdade e afirma que, pelo contrário, a verdade é isto, aquilo e aqueloutro.
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A partir de agora está iniciado o espectáculo entre os portugueses. É ver quem dá mais tiros no alvo ou na pessoa do outro. Entre os ingleses, a postura é diferente. Eles não estão um contra o outro, porque nenhum deles afirma ter a verdade - eles têm apenas teses acerca da verdade. Na realidade, eles estão ali por causa disso, porque nenhum deles tem a verdade e cada um deles espera, com a ajuda do outro, chegar mais facilmente à verdade. Este é o elo que os une e que confere a cada um uma postura que é mutuamente construtiva.
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No final do debate entre os ingleses, eles podem não ter chegado à verdade, mas pelo menos tentaram. Os portugueses é que não chegaram de certeza. No final do debate cada um dos portugueses continua a reclamar que a sua posição é que representa a verdade. Mas sendo as duas posições diferentes, não é possível que ambas representem a verdade. Na melhor das hipóteses, apenas uma pode representar a verdade. Mas também esta não pode ser a verdade porque, se fosse, não estaria lá no debate. Entre os portugueses, então, o debate público serve apenas para chegar à conclusão de que nenhuma das posições em debate é a verdade.
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