15 março 2009

Nada


Existem muitas pessoas indignadas com a situação geral do país, quer económica quer institucional, e que se interrogam "O que fazer?", no sentido de darem uma contribuição para a melhoria da situação. A resposta é "Nada". Portugal nunca se reformou por dentro em situações idênticas, e não faltam situações idênticas na história do país ao longo nos últimos duzentos anos. Todo o homem que pretenda agora intervir na vida pública, para a melhorar, vai apenas desgastar-se sem conseguir qualquer resultado.

A exigência de mudança será desencadeada por um acontecimento aparentemente insignificante, como o despedimento de quarenta ou cinquenta pessoas numa fábrica, e que levará o povo para a rua. Começam por se juntar cem pessoas num acto de solidariedade, depois aparecem mais duzentas, e num ápice o povo está na rua a a exigir a mudança da situação. Embora este acontecimento possa acontecer a todo o momento, é mais provável que ocorra logo depois das eleições. Sem uma maioria absoluta e provavelmente com um governo de coligação ainda mais à esquerda que o actual, e incapaz de governar, este será o impulso final que desencadeará a mudança.
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O país só vai mudar assim. Procurar intervir junto da opinião pública através de um discurso racional apelando à mudança e à reforma suave e eficaz não resulta e é uma pura perda de tempo, para além do desgaste que causa aos seus autores. E a razão é a falta de julgamento dos portugueses. É possível imaginar um homem (ou grupo de homens) bem intencionado e inteligente, possuindo efectivamente as soluções para reformar o país, a chegar à televisão e apresentá-las aos portugueses. O que é que vai resultar dali? Nada. Os portugueses vão ouvi-lo, serão até capazes de comentar que ele falou muito bem, mas como possuem uma falta de julgamento radical, não serão nunca capazes de julgar se ele tem ou não razão. Perante esta indecisão radical, no dia seguinte a vida corre como habitualmente e o homem que possuía as soluções para reformar o país não teve efeito nenhhum no país.

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