O homem de elite aprende com o povo e a sabedoria do povo português (católico) está principalmente nas mulheres. No post anterior argumentei que a mãe é a primeira e a mais importante transmissora de saberes ao homem de cultura católica. Neste post pretendo demonstrar como ele aprende com outras mulheres, a começar pela sua própria mulher.
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O processo de transmissão de saberes das mulheres para os homens é um processo subtil e complexo e que assenta essencialmente em três pilares que caracterizam a mulher de cultura católica, e aos quais já me referi anteriormente. O primeiro é o seu enorme liberalismo ou tolerância, o segundo a sua capacidade infinita para falar e o terceiro a sua radical falta de julgamento. É através desta combinação inesperada que as mulheres ensinam os homens.
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A natureza liberal e tolerante da mulher portuguesa confere-lhe um traço de carácter distintivo que é a mola real através da qual ela adquire os seus próprios saberes, e que a distingue do homem. Refiro-me à sua extrema curiosidade. É a curiosidade que leva a mulher portuguesa a procurar saber tudo aquilo que há para saber, não apenas no círculo restrito do seu ambiente diário, mas fora-de-portas, na sua cidade, no seu país e até no mundo inteiro.
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Os saberes precisam de ter transmitidos, tanto mais que, na maior parte dos casos, eles se destinam a ser transmitidos ao homem, a fim de o habilitar a tomar decisões. A mulher portuguesa precisa, portanto de ser uma boa comunicadora. E essa qualidade não lhe falta na sua capacidade para falar sem limites. Eu presumo que terá tido origem em Portugal aquela classificação que divide as mulheres em dois tipos, aquelas que estão sempre a falar e aquelas que nunca se calam. É a falar, às vezes de assuntos os mais despropositados e fora do contexto, que a mulher portuguesa transmite os seus saberes ao homem.
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Finalmente, conhecendo todas as soluções possíveis acerca de uma determinada questão, tendo-se envolvido a analisar as minúcias de cada uma, ela fica sem capacidade para julgar qual é a melhor, e põe a decisão nas mãos do homem. Tendo trabalhado exaustivamente a recolher informação e a transmiti-la ao homem, navegado todas as dificuldades da tormenta, no fim é como se desistisse na praia, entregando a decisão ao homem.
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Refiro agora duas situações. A primeira referente a um casal que resolve ir fazer uma viagem mas ainda não decidiu o destino. Nos dias seguintes é a mulher que vai sugerir destinos uns atrás dos outros, e a conversa começa sempre assim:-"Que achas de irmos ao Japão?", seguindo-se uma descrição detalhada das atracções turísticas de Tóquio, a duração da viagem, a companhia aérea e, ocasionalmente, o preço. Ela também já se informou sobre os melhores hóteis da cidade. Dois dias depois:"E se fôssemos antes a Nova Iorque?", seguindo-se a mesma dose.
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Ao final de um mês o marido já deu a volta ao mundo sem sair de casa. Mas toda a informação que ele agora possui sobre o Japão, sem nunca lá ter estado, Nova Iorque, o Brasil, a Venezuela, a Tailândia, as Ilhas Fiji, Macau, as Pampas argentinas, a Terra Nova e a Antárctida, sem contar com o SPA novo que abriu recentemente em S. João da Pesqueira, foi-lhe fornecida por ela sem que ele tivesse necessidade de mexer um dedo. Sem ela, ele permaneceria um bronco, em matéria de viagens como em muitas outras matérias. É claro que, aproximando-se o dia de marcar a viagem, porque se faz tarde, ela volta-se para ele, e pergunta: "Então, Luís, já decidiste onde queres ir?".
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Trato agora de uma situação no trabalho. Seis médicos reunem-se para decidir o tratamento mais adequado a dar a um doente em estado grave. Cinco são mulheres. Durante a reunião só elas é que falam, a certa altura uma fala com a outra do lado, duas outras de um para outro extremo da sala, e a que resta alimenta ao mesmo tempo a conversa das outras quatro. O homem está calado. Aquela conversa aparentemente caótica tem em vista inventariar todas as soluções possíveis, incluindo as mais inverosímeis, para aplicar ao doente, e o destinatário é o colega homem. Na realidade, quando se aproxima o momento de tomar uma decisão, elas calam-se, e é então que uma delas pergunta: "O que é que tu achas, João?". O colega responde: "Eu cá por mim acho que se deve fazer assim e assado", e elas, uma a uma: "Eu cá também acho". O João é quem decide mas quem o informou de todas as opções disponíveis, incluindo as limitações impostas pela alergia do doente a certas medicações, foram elas.
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