26 março 2009

é sempre provisoria



Do debate público num país católico, como Portugal, entre duas posições (preconceitos) A e B não sai de certeza a verdade. Pelo contrário, sai apenas a certeza de que quer A quer B não são a verdade. E do debate público entre duas posições (teses), X e Y, em país protestante, o que é que sai?

É preciso notar, em primeiro lugar, que os protestantes não vêm a público litigar as posições X e Y em nome da verdade. Eles vêm litigá-las em nome da justiça. O debate público para eles não é uma instituiçãos de verdade, é um instituição de justiça. Uma vez produzido o veredicto do júri, por exemplo 60% dos votos para X, 40% para Y, ninguém se sentirá em condições de dizer que X é verdadeira e Y é falsa, apenas que X é tendencialmente mais verdadeira que Y. Se lhes perguntassem onde está a verdade, eles defini-la-iam como W=60%X + 40%Y.

Está aqui a origem do relativismo cultural dos protestantes. Aquilo que é hoje verdade, amanhã pode não ser, dependendo do veredicto do júri a cada momento. Nos países protestantes a verdade é sempre provisória. Se amanhã uma terceira posição Z é admitida a litigação, recebendo 45% dos votos, enquanto X baixa para 25% e Y para 30%, a verdade passa a ser U=25%X + 30%Y + 45%Z. Na tradição protestante, a verdade é sempre uma consequência da justiça (a verdade está na justiça) e esta é atingida por litigação perante um júri imparcial. Esta tradição chega à verdade chegando primeiro à justiça. Pelo contrário, na tradição católica a verdade está em X ou em Y ou em W, com exclusão de todas as outras possibilidades. Assim, se a verdade está em X, ela não pode estar ao mesmo tempo em Y ou W.

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